Em Portugal não existem estudos ou planos de contingência sobre a mortalidade durante as baixas temperaturas.
Em Portugal há mais pessoas a morrer durante o Inverno do que nos meses de calor, mas não se sabe quantas pessoas morrem em consequência directa do frio, devido à falta de estudos sobre este tema, ao contrário do que acontece com as ondas de calor. No entanto, está a ser equacionada a adopção de um plano de contingência para o frio, idêntico ao existente desde 2004 para o calor. Que, contudo, só deve produzir resultados mais exactos daqui a uns anos.
A justificação para a carência de estudos é a de que no País há mais tempo quente, sendo o fenómeno de vagas de frio raro e de pouca duração. Paulo Diegues, chefe da Divisão de Saúde Ambiental da Direcção-Geral da Saúde (DGS), alertou para o facto de se verificarem mais mortes em época de frio, mas salientou que "há muitos factores que confundem as razões da mortalidade, como a gripe ou doenças crónicas".
Por exemplo, as recentes mortes de idosos verificadas em Lisboa não podem ser directamente relacionadas com o frio, como explicou ao DN José Pedro Pinto, da Santa Casa da Misericórdia: "Ninguém pode afirmar peremptoriamente que foi o frio que matou os idosos. Em Portugal não há mortes documentadas tendo como causa o frio."
Porém, Paulo Diegues confirmou que já foi encomendado o primeiro estudo sobre o impacte das vagas de frio e que poderá ser implementado um plano de contingência. "Actualmente, só existe para o tempo quente e que demorou uns sete anos até estar afinado. É um plano que engloba entidades como a Protecção Civil e, a nível local, as câmaras municipais."
Para Paulo Diegues faltam estruturas para que o controlo da mortalidade possa começar a ser feito em Portugal, sendo que a DGS acaba por limitar-se a difundir as habituais recomendações de cautela quando o frio se faz sentir com intensidade.
Nem nos hospitais são adoptadas medidas especiais. "Os hospitais geram as suas capacidades. Não há nenhum plano específico. Os profissionais de saúde estão preparados para as situações clínicas que possam surgir relacionadas com o frio", referiu Paulo Diegues. O mesmo acontece na Santa Casa da Misericórdia. "Nós temos uma relação diária com as pessoas, portanto não accionamos mecanismos especiais por causa do frio. Continuamos a realizar o nosso trabalho e claro que damos as recomendações necessárias", salientou José Pedro Pinto.
Com as baixas temperaturas a manterem-se, continua também a preocupação com os idosos e as crianças, mas igualmente com os sem-abrigo. Em Lisboa, a Câmara ainda não tinha equacionado abrir algumas estações de metro para receber quem necessita de um tecto, ao contrário do que sucede no Porto. Mas os sem-abrigo podem contar com a ajuda das organizações de solidariedade.
As casas em Portugal não estão preparadas para o frio. Um problema que tanto Paulo Diegues como José Pedro Pinto alertam, pois no País pensa-se mais no calor. E a verdade é que um estudo realizado por especialistas da Universidade de Dublin (Irlanda) conclui que Portugal é o país da União Europeia onde mais se morre por falta de isolamento das casas. Segundo a investigação, que analisou potenciais causas de morte no Inverno de 14 países, Portugal tem uma taxa de 28%, seguido por Espanha e Irlanda com 21%. O estudo refere que o facto destes países terem climas mais tem- perados faz com que a eficiência térmica nas habitações seja mais baixa.
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1496151
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