Não deve haver palavra mais pronunciada nos últimos tempos em Guimarães: desemprego. "A situação está mesmo grave", sintetiza Rui Silva, um dos 12 mil desempregados inscritos no Centro de Em-prego, segundo o IEFP.
No caso de Rui, a realidade tem uma dimensão dupla: no dia em que a fábrica CPM, de Airão S. João, fechou, ao fim de 21 anos, ele e a mulher viram-se sem trabalho. "Temos dois filhos para criar e sem trabalho não é fácil", diz.
As notícias dão conta dos fechos de fábricas, a maioria delas ligadas ao sector têxtil. Nuns casos anunciados, noutros inesperados. Colada ao desemprego, surge a pobreza que afecta muitas famílias do concelho. A tal ponto que a Câmara decidiu adoptar medidas suplementares de apoio - uma decisão que uniu a maioria socialista e a oposição -, como o pagamento de rendas a famílias em dificuldades. As instituições de solidariedade vêem-se também cada vez mais aflitas para fazer frente ao crescente número de famílias a pedirem poio alimentar.
Guimarães é o quinto concelho com o maior número de desempregados - em Abril, estavam inscritos no Centro de Emprego 12099. Mas, face aos restantes municípios - Gaia, que surge em primeiro (22906 desempregados); Lisboa (20 771), Sintra (16406) e Porto (14118), é dos mais pequenos em termos populacionais.
"Algo muito estranho se passa. Estamos muito abaixo da população do Porto e temos quase tantos desempregados. Em termos percentuais, estamos com o dobro da média nacional, o que exige medidas", afirma Carlos Teixeira, presidente da Associação Comercial e Industrial de Guimarães. Essas medidas, adianta, devem passar pela "reconversão da força laboral", que tem escolaridade muito baixa (52% não tem o sexto ano), pelo combate à "concorrência desenfreada do mercado asiático e ao dumping de preços" e por mudanças no sector financeiro. "Quando se trata de empresas têxteis, independentemente de serem grandes, a banca está a aplicar spreads inqualificáveis, na ordem dos 13, 14%, afogando a indústria", alerta o docente da Universidade do Minho. Em sua opinião, o Governo deve garantir que a Caixa Geral de Depósitos adopte regras "mais amigas da indústria" na concessão de crédito.
"Há todo um drama por detrás do desemprego e que é mais grave nos casos de desempregados sem qualquer tipo de protecção", sublinha Francisco Vieira, do Sindicato Têxtil do Minho, que vê na actual situação semelhanças com a que se viveu em 1990, com o avolumar de casos de salários em atraso. "O mais apreensivo é que o discurso de muitos empresários não permite esperar melhoras", adianta.
J.N. - 27.05.09
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