Indústria do mármore.
Pequenas empresas obrigadas a fechar as portas De máquina em máquina, de pedra em pedra, Joaquim Coelho mostra com orgulho o tamanho da fábrica que herdou do pai, o fundador da Maserl, uma das muitas empresas de mármores de Pêro Pinheiro. Nos tempos áureos trabalharam na fábrica cem pessoas; hoje são pouco mais de 20, que para ali se deslocam diariamente, numa azáfama de um trabalho duro mas que requer alguma arte.
Combater a crise que afecta a indústria do mármore em Portugal e continuar um negócio que o pai iniciou há 60 anos são os grandes desafios para Joaquim Coelho, que desde cedo se habituou a trabalhar a pedra. "Há uma quebra na procura. É difícil transmitir isto aos empregados, pois o ano de 2008 foi bom e agora estamos numa situação de estrangulamento", diz o empresário.
Ao contrário da maior parte das empresas de Pêro Pinheiro, a Maserl faz a própria extracção do mármore bruto em duas pedreiras situadas a escassas centenas de metros da fábrica, uma solução que acarreta vários encargos financeiros a curto prazo, que não são compensados devido ao facto de os seus clientes efectuarem os pagamentos a nove meses. "Gasto seis mil litros de gasóleo por semana. Tenho uma escavadora que só por dia gasta 800 litros", sublinhou, acrescentando que tem em atraso a recepção de pagamentos "de mais de um milhão de euros, alguns deles irrecuperáveis".
"A procura está a cair porque este sector acompanha o da construção, que também está em crise", explica. Segundo o proprietário da Maserl, a recente crise do sector afecta principalmente as empresas familiares, de pequena dimensão, que não conseguem competir com as de maior capacidade. "Muitas pessoas aprenderam a profissão e depois abriram uma pequena empresa familiar, com seis ou sete pessoas, e agora, dada a falta de procura de mármore, são obrigadas a fechar. As pessoas estão a sofrer, isto é um drama familiar. Há famílias que não sabem fazer mais nada a não ser trabalhar no mármore", diz
Das 2000 empresas ligadas ao sector do mármore em Portugal, 460 estão localizadas na área de Lisboa e grande parte delas labora em Pêro Pinheiro, uma vila de 6500 habitantes no concelho de Sintra, onde 300 pessoas já estão sem trabalho.
Segundo Miguel Goulão, vice-presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins, este sector, que emprega actualmente 20 mil trabalhadores, vive "uma situação de crise com contornos muito profundos e consequências graves". "A proliferação de pequenas empresas e a falta de cooperação constituem obstáculos ao incremento da cadeia de valor e à criação de dimensão para "atacar" mercados cada vez mais competitivos". Este "é o ponto-chave a corrigir", conclui.|
D.N. LUSA(01.02.09)
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
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