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04/02/2009

Homem mais rico do país também está a despedir

A decisão da Corticeira Amorim em avançar para despedimentos não é pacífica e põe a região de Santa Maria da Feira em sobressalto, dada a dependência do sector. Em cinco anos, desapareceram mais de 200 corticeiras, no país.

De acordo com o director da Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), Joaquim Lima, existiam 824 empresas corticeiras em Portugal, em 2004, mas a tendência tem sido de desaparecimento dos pequenos negócios, já que há cada vez menos subcontratação.

Actualmente, existem cerca de 600 empresas, uma redução de 27% no tecido empresarial, embora o número de trabalhadores ainda se mantenha nos 12 mil, em todo o país. A Corticeira Amorim é a maior exportadora mundial. Américo Amorim já não dirige a a empresa, mas ainda é accionista.

Joaquim Lima admite que a crise vai ter um "grande impacto", sobretudo nas oito freguesias a norte de Santa Maria da Feira, onde 90% das empresas estão ligadas à cortiça, como Mozelos ou Santa Maria de Lamas. "Os reflexos já se notam e a tensão social é crescente", avisa.

A apreensão é ainda maior quando, durante todo o dia de ontem, circulavam rumores de que o grupo Suberus, o segundo maior do país e cujos operários entraram em greve por salários em atraso, já havia declarado falência. O JN tentou contactar o presidente do grupo, sem sucesso.

A crise no sector está ligada à perda de quota de mercado das rolhas, para outros vedantes sintéticos. As vendas ao sector vinícola representam 70% do mercado das corticeiras, mas a opção crescente por tampas plásticas ou de rosca provocou perdas superiores a 30% na quota de mercado.

Apesar da consciência de que o mercado está em retracção, o despedimento colectivo não caiu bem em diversos quadrantes. O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores do Sector da Cortiça, Alírio Martins, adiantou que o Sindicato "contesta" desde já estes despedimentos, porque "estamos perante uma empresa que não tem dificuldades económicas", justifica.

Sevinate Pinto, antigo ministro da Agricultura e fundador da Filcork, mostrou-se "incomodado" com os despedimentos. "Desconheço o que justifica esta decisão. Tem tido resultados positivos, é uma empresa sólida, não é à primeira que se deve tomar uma opção destas", afirma, acrescentando: "Pode ser um acto de gestão, mas as empresas têm de aguentar até ao limite em matéria de emprego".

Diamantino Sousa, empresário do sector e candidato à presidência da APCOR, tem opinião semelhante. "Entendo que os grandes grupos estejam a procurar redimensionar-se, mas o despedimento colectivo não será, socialmente, o mais adequado".

Nos primeiros nove meses de 2008, a Corticeira Amorim obteve lucros de 10,5 milhões de euros. Há um mês, a empresa gastou 10 milhões de dólares na aquisição de 25% da USA Floors, uma empresa de pavimentos de cortiça que fornece o sector de construção nos EUA. Ontem, a crise na construção foi um dos motivos invocados para justificar os 118 despedimentos na Amorim Cork Composites. Os restantes 75 são na Amorim Irmãos.

J.N. 04.02.09

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