A rede Social Watch (Observatório da Cidadania) exortou hoje os governos europeus a colocarem o combate à pobreza no centro da agenda, apresentando o Egito como um exemplo das “revoluções sociais” que podem ocorrer se houver injustiça social.
Os acontecimentos no Egito marcaram hoje, em Bruxelas, a apresentação do relatório de 2010 da rede internacional de organizações não-governamentais (ONG) Social Watch sobre a resposta à pobreza, exclusão social e desigualdades na Europa e além da Europa, com os responsáveis do observatório a enfatizarem que o levantamento popular se deve a desigualdades, nas quais a UE também é responsável.
Sustentando que a ajuda europeia ao Egito foi sempre dirigida a “ajudar a manter [o presidente Hosni] Mubarak no poder, com muito pouco apoio às organizações de sociedade civil que procuram uma distribuição mais igualitária e justa dos recursos”, a Social Watch considera ser tempo de a União Europeia mudar a sua política, dentro e fora da Europa.
“É tempo de a UE estabelecer uma abordagem consistente à proteção social, tanto dentro como fora da União Europeia”, advertiu um dos responsáveis da rede, Fintan Farrel.
Por seu lado, o diretor de desenvolvimento da rede Eurostep, Simon Stocker, considerou que o relatório hoje apresentado “mostra uma pobreza crescente na Europa, que não está num plano suficientemente elevado na agenda europeia”, já que a chamada estratégia “Europa 2020 dá prioridade ao crescimento económico”, relegando para segundo plano as políticas sociais.
Apontando que “a emergência de bairros de lata em cidades europeias, habitados por imigrantes sem documentos, é a prova de que a justiça social deve ser colocada no centro da agenda política da UE”, os responsáveis da Social Watch estabelecem então um paralelo com o que se passa no Egito, sustentando que o efeito dominó pode não se limitar ao Médio Oriente.
“A insustentabilidade de governos que não promovem a coesão social para todos é a principal mensagem que se extrai daquilo que a crise no Egito nos está a dizer, e que pode afetar igualmente Estados-membros da UE”, considera Roberto Bissio, coordenador do Observatório.
Para este responsável, “as políticas do FMI [Fundo Monetário Internacional] falharam nos países em desenvolvimento e estão a vir agora para a Europa”, podendo causar os mesmos efeitos.
O relatório em si apresenta dados gerais sobre risco e intensidade de pobreza relativos a 2008, e alguns mesmo de 2006, e apresenta relatórios nacionais sobre 12 países, entre os quais não se encontra Portugal.
Em termos gerais, o documento enfatiza o facto de a pobreza e a exclusão social serem “uma realidade para um grande número de europeus”, já que cerca de 17 por cento da população da UE, ou seja, cerca de 85 milhões de pessoas, vivem abaixo do limitar da pobreza, e “uma em cada cinco crianças nasce e cresce com privações económicas e sociais”.
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