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05/02/2011

Tarifa social da electricidade reduz-se a cêntimos

Quando Diamantina Veiga recebeu a carta da Segurança Social e lhe disseram que era para ter desconto na luz pensou que «fossem 20 euros ou até mais» sem nunca calcular que o que estava reservado eram 59 cêntimos.
«O que é isso? Não é nada», foi a reacção de quem com, 78 anos, se deslocou ao balcão da EDP a Bragança para requerer a tarifa social.
Mas perdeu a viagem porque não conseguiu «meter a papelada» e pagou mais de táxi do que o desconto que pode vir a ter e que varia entre 40 e 80 cêntimos/mês no total da factura de electricidade.
A medida foi anunciada pelo Governo como apoio aos mais carenciados e em Janeiro a Segurança Social enviou cartas a beneficiários de prestações sociais para atestarem a condição de beneficiário desta redução na conta da luz.
«Eu tive a carta em casa muito tempo porque nem queria ir lá», contou Diamantina, que só passados 20 dias é que se entusiasmou a fazer os 20 quilómetros que separam Babe de Bragança.
«Juntámo-nos quatro que tinham as mesmas cartas e fomos num táxi», contou, explicando que pagaram cada uma, três euros pelo transporte partilhado.
As outras mulheres acabaram por entregar a papelada, mas Diamantina perdeu a viagem porque o contador está em nome do falecido marido e precisa da certidão de óbito para a transferência de propriedade e para beneficiar da tarifa.
Maria Rita, de 84 anos, recebeu a carta há 15 dias, em Moredo, e «pensava que era para fazer a prova de vida».
Ainda não fez nada com ela, porque também não sabe o que tem de fazer, mas para quem gasta «muito dinheiro em medicamentos dava-lhe jeito um desconto».
Na mesma localidade, a 25 quilómetros da cidade, vive a nora Ângela Monteiro, beneficiária do RSI, que tem opinião diferente: «Se vier cá de propósito não compensa» pois a viagem de ida e volta fica em 02,40 euros.
Ainda vai «pensar se realmente vale a pena o trabalho» porque não sabe «se é uma coisa simples ou se tem de andar aí às voltas».
«Acho que não é um apoio porque se estamos a ser beneficiários do RSI é porque precisamos mesmo e esse desconto não favorece assim tanto como isso».
No concelho de Freixo de Espada à Cinta não há um balcão da EDP, o que obriga as pessoas a deslocarem-se 50 quilómetros até Torre de Moncorvo, com um gasto mínimo em transporte público que ronda os 16 euros de bilhete de autocarro ida e volta.
Quando começaram a receber as cartas, Rui Portela, presidente da Junta de Poiares e carteiro no concelho, foi informando do que se tratava e garante que «umas rasgaram as cartas e outras guardaram-nas».
«Ainda tinham de pagar a um electricista para adaptar o contador, tinham de o ter em nome delas e são pessoas com reformas baixíssimas. Isto é ridículo e nem representa nada na vida das famílias» diz o jovem autarca, contando que alguns «entenderam aquilo como para tapar os olhos ao povo».
O acesso à medida também está disponível pela Internet, mas nem muitos destes beneficiários sabem lidar com ela, nem quem sabe o consegue numa zona onde não chega o sinal das novas tecnologias.

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=10973

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