Caixotes a transbordar de lixo, inúmeros sacos de plástico no meio do chão, mau cheiro e moscas compõem o cenário provocado pela greve dos trabalhadores da recolha de resíduos dos municípios de Loures e Odivelas. O sindicato diz que a adesão é total.
foto Gerardo Santos/Global Imagens |
Iniciada às 23 horas de segunda-feira e com fim previsto para as 20 de hoje, a paralisação englobou os funcionários da recolha de resíduos sólidos dos Serviços Municipalizados (SMAS) de Loures, que também servem o município vizinho de Odivelas.
Ontem, juntaram-se à greve o sector operário da Câmara de Loures e o sector administrativo dos SMAS. Hoje, é a vez de pararem os funcionários das restantes secções e os administrativos da autarquia.
Na rua, o lixo amontoa-se, com especial incidência nas cidades de Loures, Sacavém e Odivelas, onde a densidade populacional é maior. Os habitantes ouvidos pelo JN dividem-se: uns queixam-se da quebra do serviço, os outros apoiam a luta dos trabalhadores, que reclamam a reposição de um subsídio de deslocação de cerca de 80 euros criado há 27 anos.
"Eu acho que isto é um escândalo", diz José Dias, 81 anos. "Sou contra todas as greves, porque só dão prejuízo ao país e lucro ao patronato."
Mais compreensivo é Waqas Ahmed, 35 anos. Apesar de a sua mercearia ter ganho uma "vista panorâmica" para um enorme conjunto de caixotes praticamente submersos por tantos sacos de lixo, o lojista de Famões, em Odivelas, apoia a luta dos trabalhadores dos SMAS.
"Se lá estivesse também fazia greve, porque toda a gente precisa de dinheiro", diz o comerciante, admitindo, no entanto, o transtorno causado pela acumulação de resíduos. "Só não cheira muito mal porque não está calor. Mas há moscas e não temos onde deixar o lixo", explica.
Desde o início que a paralisação tem sido fértil em polémicas. A primeira ocorreu logo na noite de segunda-feira quando o piquete de greve impediu a saída dos camiões de recolha. Segundo João Coelho, do Sindicato dos Administradores da Administração Local (STAL), que convocou a greve, a PSP empurrou e lançou gás pimenta sobre os grevistas, chegando mesmo a algemar um deles, que viria a ser libertado pouco depois. A PSP já desvalorizou os incidentes, classificando-os como "meros empurrões".
Entretanto, os grevistas recusaram-se a cumprir os serviços mínimos decretados por um tribunal arbitral na sequência da solicitação da administração dos SMAS. "Na óptica do STAL, estes serviços mínimos são inconstitucionais porque não nos foi apresentada nenhuma proposta e não há perigo para a saúde pública porque não há hospitais nos concelhos", defende João Coelho.
Ontem, a Câmara de Odivelas admitiu à Lusa ter recorrido a uma empresa privada para retirar lixo dos contentores da cidade, numa iniciativa alheia à administração dos SMAS. João Coelho afirma que o STAL vai apresentar uma queixa policial por causa daquilo que considera ser uma recolha "ilegal" de lixo em Loures e Odivelas.
Sem comentários:
Enviar um comentário