À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

26/11/2010

Uma luta que não se deixa esconder

Vasco Cardoso

Outra coisa não se esperaria da parte da comunicação social dominante e dominada, mas mal estaria a nossa consciência se perdêssemos a capacidade de indignação perante o tipo de abordagem noticiosa que foi realizada nos últimos dias, seja a propósito da manifestação contra a NATO seja na cobertura da grandiosa Greve Geral de 24 de Novembro.
Num e noutro caso, a actuação da comunicação social – com variações no tom e nos argumentos – visou o mesmo objectivo: condicionar a participação primeiro para diminuir a dimensão e significado político depois.
Num e noutro caso esses objectivos foram derrotados. Não só a manifestação contra a NATO foi uma das mais importantes jornadas de luta pela Paz, como a Greve Geral foi uma das mais poderosas jornadas de luta dos trabalhadores portugueses desde o 25 de Abril. Convém no entanto não esquecer tudo aquilo que foi preciso vencer para construir estas jornadas de luta.
Ao longo de semanas desenvolveu-se uma campanha de verdadeiro terrorismo informativo. Ao mesmo tempo que ocultavam a natureza e papel da NATO e estendiam a passadeira aos dirigentes das grandes potências imperialistas, desenvolvia-se uma campanha nos media, visando identificar a luta pela PAZ com a acção de grupos provocadores e na qual se inseria também a exibição permanente de imagens de exercícios das forças policiais a intervir sobre manifestantes, quase que naturalizando a repressão e o medo. O dia da manifestação, apesar das mais de 30 mil pessoas que desfilaram na Avenida da Liberdade, não foi diferente. Na falta de «incidentes» e de umas «montras partidas» optaram pelo silenciamento da manifestação da campanha «Paz Sim. Nato não».
Mais difícil foi esconder a dimensão da Greve Geral. Não que não tivessem sido ensaiados numerosos e velhos expedientes visando projectar a ideia, não só da «inevitabilidade» da actual política mas, sobretudo, da «inutilidade» da luta: sondagens que garantiam que os portugueses não faziam greve; contas e mais contas sobre os «milhões» que esta custa; debates, entrevistas e declarações sem fim, visando a desmobilização dos trabalhadores. Condicionamentos que se somaram à pressão e chantagem realizada sobre milhares de trabalhadores nos locais de trabalho. Mas a dimensão da Greve Geral derrotou esses objectivos. Bem podem Governo e patronato tentar diminuir o significado desta jornada. Esta greve foi uma poderosa afirmação da determinação dos trabalhadores e do povo português e uma sólida garantia de que a luta continua...para o futuro. 

http://www.avante.pt/pt/1930/opiniao/111479/ 

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