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24/06/2010

Quadros superiores queixam-se de excesso de rotatividade

Os quadros superiores da administração pública queixam-se de uma excessiva rotatividade nos cargos provocada pelos ciclos eleitorais. 

Os quadros superiores da administração pública estão descontentes com a rotatividade dos cargos provocadada pelos ciclos eleitorais e falta de flexibilidade na gestão dos recursos humanos.
A conclusão está num inquérito aos dirigentes da Função Pública realizado em 2007 para uma tese de doutoramento no Instituto Superior de Ciências do trabalho da empresa e que hoje vai ser apresentada.
O estudo diz também que a esmagadora maioria dos dirigentes inquiridos se queixa da demora dos políticos para tomarem decisões, bem como de dificuldades na gestão de recursos humanos.
Quase 90 por cento dos dirigentes superiores da administração pública queixam-se da falta de flexibilidade na gestão dos funcionários.
Este é o principal obstáculo nas funções que desempenham. Seguem-se, a lentidão nas decisões dos políticos (com 83%) e a insuficiente qualificação do pessoal.
Mas os obstáculos não se ficam por aqui, 77 por cento criticam a instabilidade nas reformas dos vários governos.
Carla Teixeira, autora desta tese de doutoramento em Sociologia pelo ISCTE, explica que os dirigentes superiores da administração do Estado não gostam de ser escolhidos por critérios políticos.
«A maioria considera que todos os dirigentes, inclusivé os intermédios, deviam ser escolhidos apenas com base na competência técnica e profissinal, não estando sujeitos aos ciclos eleitorais, porque precisam de estabilidade e segurança para exercer as suas funções», afirma.
Na administração pública existem quase 600 dirigentes superiores, 120 responderam a este inquérito. A rotatividade é grande.
«Estes dirigentes têm vindo gradualmente a perder poder de intervenção, na medida em que têm pouca autonomia, porque se encontram muito dependentes do poder político e porque parte das suas funções têm vindo a ser transferida para os gabinetes ministeriais», adianta.
A investigadora fala numa «forte instabilidade de lugares».
Um exemplo: em 2007, dois anos depois do novo Governo tomar posse, 60 por cento dos dirigentes tinham sido nomeados pelo executivo socialista.
Esta tese de doutoramento vai ser apresentada hoje numa conferencia com o tema “Radiografia social da administração pública em Portugal”.
Esta conferência é organizada pela Associação dos Profissionais em Sociologia das organizações e do trabalho. O presidente desta associação, António Norberto Rodrigues, faz um retrato de uma administração pública com dificuldades e sem motivação para se reformar.
«O retrato é uma administração envelhecida, com uma dinâmica de incerteza, de alguma apatia, de alguma desmotivação e com dificuldade em pôr em prática a reforma que os dois últimos Governos enunciaram. Aposentou-se muita gente, as pessoas têm agora um ritmo maior, com menos recursos para executar o trabalho, o que cria situações de grande incerteza, de grande ansiedade e de grande desconfiança relativamente ao futuro», afirma.
António Norberto Rodrigues diz que os funcionários públicos têm sido obrigados a aguentar cargas de trabalho cada vez maiores por causa dos cortes no pessoal o provoca «consequências nos trabalhadores», que muitas vezes ficam para além do horário e levam tarefas para fazer casa.  

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1601756

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