Pedro Guerreiro
Não pode deixar de ser denunciado o sério e perigoso significado das recentes sanções contra o Irão aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que contou com os dignos votos contra do Brasil e da Turquia (e a abstenção do Líbano).
Estas novas medidas do Conselho de Segurança das NU contra o Irão partiram de mais uma iniciativa dos EUA - apadrinhada pela França, Alemanha e Grã-Bretanha -, que se enquadra na sua estratégia de permanente ingerência, desestabilização e aumento da tensão com vista ao domínio desta importante região do Mundo, tão abundante em recursos.
Aliás os EUA têm utilizado as sanções como um instrumento de incremento de escaladas de confronto contra países que não se submetam aos seus ditames ou obstaculizem a concretização das suas ambições. Recordemos, por exemplo, as etapas de preparação da agressão dos EUA (e dos seus aliados) à Jugoslávia ou ao Iraque.
Estas medidas de confronto promovidas pelos EUA (e pela UE) têm tido como objectivo obstaculizar a solução pacífica de problemas e conflitos, alicerçar a ingerência, isolar e procurar utilizar a legítima reacção dos Estados visados em defesa da sua soberania e projectos de desenvolvimento como pretexto para levar avante novas provocações ou, mesmo, agressões, sempre acompanhadas por amplas campanhas de desinformação que procuram apresentar o agredido como agressor.
Aliás, estas novas medidas contra o Irão (preparadas e acordadas, inicialmente, à margem do Conselho de Segurança das NU) surgiram precisamente no momento em que, por iniciativa do Brasil e da Turquia, é aberta uma real oportunidade de construção de uma solução política para o problema criado em torno do programa nuclear do Irão, que este reafirma ter objectivos pacíficos. Iniciativa do Brasil e da Turquia que, afinal, expôs a nu as intenções de confronto e de agressão levadas a cabo pelos EUA e da sua instrumentalização do Conselho de Segurança das NU para este fim.
Recordem-se os esforços dos EUA – que acabaram por ser protagonizados pelas grandes potências da UE - de passar a discussão em torno do programa nuclear do Irão da Agência Internacional de Energia Atómica para o Conselho de Segurança das NU como passo necessário ao aumento da tensão.
Aliás, com este tipo de decisões, é cada vez mais questionado o papel e a legitimidade das decisões (ou ausência delas) deste órgão da ONU. Aos olhos do mundo só pode ser chocante e hipócrita que o Conselho de Segurança das NU que votou maioritariamente as sanções contra o Irão, não tenha adoptada uma resolução de condenação de Israel pelo criminoso ataque a embarcações com ajuda humanitária destinada à população palestiniana na Faixa de Gaza, (mais) um acto de terrorismo protagonizado por um Estado que coloniza, explora e oprime o povo palestiniano, que é portador de armas nucleares e que ameaça de agressão e agride países no Médio Oriente gozando da conivente impunidade que lhe é concedida pelos EUA e a UE.
A perigosa instrumentalização do Conselho de Segurança das NU por parte dos EUA e da UE é igualmente exposta quando, não conseguindo integrar na resolução todas as medidas que pretendia (por desacordo da China e da Rússia), posteriormente, as adopta de forma unilateral (e branqueada), invocando a adopção da resolução que, precisamente, não as havia integrado.
Há que estar muito atento à evolução da situação nesta região. As sanções agora aprovadas pela maioria do Conselho de Segurança das NU estão imbuídas do perigoso germe da provocação protagonizada pelos EUA. Às forças anti-imperialistas, às forças da paz impõe-se a denúncia das acções e intenções do imperialismo e a exigência do fim da escalada de agressão.
http://www.avante.pt/pt/1908/opiniao/109336/
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