Há centros de saúde e USF com falta de produtos essenciais no dia-a-dia e atrasos no pagamento aos profissionais
Um centro de saúde do concelho de Sintra esteve um longo período sem papel para as impressoras. Uma situação que levou os doentes a trazerem papel de casa para terem receitas após a consulta. Noutra unidade, agora na Amadora, chegam medicamentos e dispositivos fora de prazo e em quantidades diferentes das encomendadas. São situações caricatas que marcam a reforma de ouro do Governo na saúde, e que se devem a problemas burocráticos e de articulação entre organismos. Mas há mais: há unidades a ameaçar deixar de prestar alguns serviços porque não são pagos, e profissionais que esperam meses por uma remuneração justa (ver relacionado.
Unidades de Saúde Familiares (USF) e centros de saúde estão a viver problemas semelhantes, embora a situação aconteça mais na região de Lisboa e Centro, apurou o DN junto de várias unidades. Bernardo Vilas Boas, presidente da Associação Nacional das USF, admite que ainda há muitos problemas deste tipo, porque os "ACES não têm autonomia e orçamento e as ARS ainda concentram estes serviços", refere. E frisa que "não faz sentido que falte dinheiro para coisas básicas nas unidades".
Uma USF da Amadora diz que para ter material de escritório ou remédios tem de pedir ao agrupamento de centros de saúde (ACES), que depois envia para a Administração Regional de Saúde (central de compras). "Fazemos pedidos e as coisas não chegam ou vêm na quantidade errada. Estivemos séculos sem papel para limpar as mãos e vieram cá uma vez pôr o álcool para desinfectar e não voltaram", exemplifica.
Mais grave é a situação dos medicamentos. "Já recebemos pílulas ou DIU fora de prazo ou então chegam em quantidades erradas. Nalguns casos não nos chegam para os pedidos, mas às vezes acontece mandarem-nos em quantidades tão grandes que ficam fora de prazo e vão para o lixo. É um desperdício. E há unidades que estão pior." Outra situação reportada foi a falta de vacinas contra o tétano, falha que põe em causa os indicadores da unidade.
Outro problema tem que ver com o fundo de maneio, que não existe em todas as ARS. "Só temos 250 euros por mês para gastar. O dinheiro só é reposto depois de enviarmos as nossas despesas. Mas pode haver atrasos de uma semana. Ficamos sem dinheiro para pagar os táxis e até selos, para convocarmos doentes por carta para coisas essenciais como rastreios."
Helena Cargaleiro, directora do ACES da Amadora, admite a existência destas "contrariedades", embora se esteja a tentar "funcionar ao melhor nível. Temos de afinar algumas coisas. Ainda não temos área de armazenagem, o que dificulta o fornecimento. Vamos reunir com os vários centros amanhã, para identificar problemas e soluções", refere. Contactado pelo DN, o Ministério da Saúde não respondeu em tempo útil.
Na USF Condeixa (no Centro), José Miguel Conceição vive situações parecidas. "Desde o início do ano que há mais atrasos. Pensos e pílulas não chegam na quantidade pedida. Por isso, as mulheres têm por vezes de pagar parte, mesmo que passemos receita. O problema é crónico e da ARS dizem que não têm quantidade suficiente." O mesmo se passa com o DIU. "Por vezes temos de pedir à mulher para voltar noutra altura."
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