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20/06/2010

Desemprego em Castelo de Paiva dobro da taxa nacional

Habitantes locais já perderam a conta às empresas industriais que estão a fechar portas nos últimos meses e a lançar no desemprego centenas de trabalhadores
É com um encolher de ombros de resignação que os paivenses reagem ao fecho das duas fábricas da Investvar, que encaram como apenas mais um episódio no longo historial de despedimentos que tem afectado o concelho nos últimos anos.
No Largo do Conde, em Castelo de Paiva, apenas um dos três aposentados da função pública que conversavam animadamente sabia dos cerca de 200 despedimentos da Glovar e da Ilpe Ibérica anunciados na véspera, o que não lhes causa qualquer espanto, enumerando as empresas que fecharam e se deslocalizaram.
"Nos anos 90, foi o encerramento das minas do Pejão", disse Fernando Moreira, ao que Adriano Nunes acrescentou que "depois foi a fábrica de calçado Clarks" e António Moreira terminou com "são tantas".
Com uma taxa de desemprego superior a 20%, o dobro da média nacional, em Castelo de Paiva quase todas as pessoas têm um desempregado na família: "A minha sobrinha foi despedida da Clarks, desenrascou-se na Glovar e agora está outra vez sem trabalho", atirou Adriano Nunes.
Como se cantassem ao desafio, António Moreira contou como as duas filhas ficaram sem trabalho e "uma faz uns biscates e a outra nunca mais arranjou".
"Aos 75 anos tenho medo do futuro para a próxima geração", atirou Fernando Moreira, realçando que "o pior é que muitos jovens foram trabalhar para Espanha para a construção civil, mas, como deixou de haver trabalho, estão todos a voltar e no concelho não há nada".
Para não deixar a terra, onde valoriza "a relação entre as pessoas que se conhecem todas", Adão Mendes abriu há sete anos a loja Tuga Mobile, onde vende telemóveis e carrega cartões, assistindo de perto às preocupações dos clientes. "O desemprego é a conversa dia após dia", disse, confessando que "antes as pessoas faziam carregamentos de 20 euros e agora é aos cinco euros de cada vez".
No bairro social da Raiva, freguesia onde a Investvar (que até Março representou a marca Aerosoles na Europa) abriu a Glovar há dez anos, Maria Teresa Gomes ainda nem pensou como vai ser, agora que ela e o marido, com 43 e 48 anos respectivamente, ficaram sem trabalho. "Já se falava que não havia dinheiro e que podia fechar, mas..."
A esperança é alimentada por um dos poucos casos de sucesso que anda na boca de toda a gente: uma fábrica de calçado vizinha faliu e, poucos meses depois, reabriu com novo patrão, que chamou todos os antigos trabalhadores e "ainda mais alguns". 

http://dn.sapo.pt/bolsa/emprego/interior.aspx?content_id=1597996

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