Contactado pela Lusa por ocasião da Marcha contra a Pobreza, que se realiza quinta-feira, em Lisboa, Henrique Pinto revelou que se não existissem ajudas por parte do Estado, o número de pobres em Portugal poderia chegar aos 41 por cento, quase metade da população.
"Se não fossem as chamadas transferências sociais, que são as ajudas do Estado, que vão desde o Rendimento Social de Inserção ao Complemento Solidário para Idosos, desde subsídios para grávidas a subsídios para as famílias, de alimentação ou invalidez, teríamos em Portugal 41 por cento de pobres", alerta.
Na opinião do director-executivo da CAIS, esta é a consequência da crise nacional da qual o país nunca saiu, agora agravada pela crise financeira mundial.
Henrique Pinto acredita que actualmente ainda há "falta de vontade política" para resolver o problema da pobreza e defende um papel mais activo dentro de cada ministério.
"Quando se fazem ou preparam orçamentos, cada ministério deve colocar dentro de um orçamento próprio estas bolsas de pobreza, que se podem verificar na economia, na educação, na habitação, na saúde, para além dos investimentos que devem fazer", sugeriu.
No entanto, admite, o maior entrave no combate à pobreza e à exclusão social está na indiferença que a maior parte da população tem para com estes problemas e que Henrique Pinto aponta como "um dos grandes factores causadores" de não se conseguir terminar com os ciclos de pobreza "nos quais estão envolvidas famílias há muitas gerações".
Nesse sentido, a iniciativa de quinta-feira surge como uma "marcha de combate à indiferença" e "mobilizadora da opinião pública".
"Pretendemos mobilizar a opinião pública para que se aproxime mais, não seja tão indiferente aos dois milhões de pessoas ou mais que vivem neste limiar da pobreza em Portugal, homens e mulheres que têm um rendimento inferior a 406 euros", explicou Henrique Pinto.
A concentração está marcada para as 19:30, na Praça Luís de Camões, em Lisboa. As pessoas são convidadas a levar uma vela e a caminharem pelo Chiado, passando pela Rua Garrett, depois pelo Rossio, até chegarem ao arco da Rua Augusta, onde se encontra uma réplica da laje da Praça do Trocadero, em Paris, em honra das vítimas da fome, da ignorância e da violência.
Nessa altura, várias figuras públicas vão declamar a "Ode do Pão", do escritor chileno Pablo Neruda, que antecipará um minuto de silêncio pelas vítimas da fome e da exclusão social.
A iniciativa terminará na Praça Martim Moniz, junto da tenda onde decorre a acção "Pão de Todos. Para Todos", também da CAIS, com a assinatura de um mural que representa um compromisso público com a erradicação da pobreza.
Apesar da organização da marcha ser da responsabilidade da CAIS, conta com a participação da Amnistia Internacional, da AMI (Assistência Médica Internacional), da Comissão Nacional Justiça e Paz, da Comissão Social da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho, da Fundação Obra do Ardina, da organização Médicos do Mundo, da associação O Companheiro e da Rede Europeia Anti-Pobreza.
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