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01/10/2009

Servir o capitalismo

Rui Paz

Os resultados das eleições parlamentares do passado dia 27 na Alemanha e em Portugal confirmaram que servir o capitalismo não compensa. Tal tarefa ou opção pode trazer vantagens de ordem pessoal para os que uma vez derrotados ou afastados do governo e do parlamento pelos eleitores são recompensados com postos bem remunerados na direcção das grandes empresas e bancos. Mas, muitas vezes, acaba por conduzir ao enfraquecimento ou, mesmo, à autoliquidação dos partidos e forças políticas das quais se servem para enganar e oprimir os povos e os trabalhadores.
Na Alemanha, a social-democracia, após 11 anos de horrores sociais e de uma política antidemocrática e militarista, obteve o pior resultado eleitoral da história da República Federal com 23% (no início dos anos setenta o SPD chegou a atingir 55%). A democracia-cristã, o partido que tradicionalmente está mais intimamente ligado aos interesses do grande capital explorador e belicista continuou a perder votos e ficou-se pelo segundo pior resultado de sempre (33,8%).

Para compreender este cataclismo eleitoral é necessário ter presente que só entre 2004 e 2007 a perda real do valor líquido dos salários foi de 4,2% enquanto o lucro dos 30 principais grupos monopolistas cotados na bolsa de Frankfurt aumentou 185%. Apesar dos lucros fabulosos, os impérios industriais e financeiros como a Nokia, Siemens, Continental, Henkel, BMW continuam a despedir dezenas de milhares de trabalhadores, desprotegidos por uma política feita à medida dos interesses de uma minoria parasitária de grandes accionistas.
A subida acentuada dos Liberais que beneficiaram de poderosos meios afectos ao grande capital não impede que estas eleições fiquem marcadas pelo descrédito total da politica de direita da social-democracia e a subida do partido «A Esquerda» (11,9%) ao qual bastaram quatro motes mágicos para obter um bom resultado eleitoral: não à reforma aos 67 anos; não às medidas Hartz IV que reintroduziram o trabalho escravo obrigatório para os desempregados; não à agenda 2010 iniciada pelo chanceler Schröder e não às intervenções militares no estrangeiro.

Vinte anos após a chamada «reunificação» da Alemanha, o capitalismo real ultrapassa na sua crueldade tudo o que nos anos de 1989 e 1990 se poderia imaginar. O SPD e a Democracia-cristã que durante a existência da República Democrática Alemã sempre afirmaram que os trabalhadores alemães ocidentais eram os mais qualificados, com o maior índice de produtividade e de rentabilidade, após o fim do socialismo no Leste, passaram em menos de 24 horas a considerar esses mesmos trabalhadores como os mais doentes, os mais caros, os mais incapazes. Kohl declarou que a Alemanha não poderia continuar a ser «um parque de tempos livres» e Schröder, o camarada dos patrões, insultou os trabalhadores chamando-lhes «preguiçosos». Schröder trabalha hoje para um grande monopólio russo-germânico auferindo anualmente um milhão de euros e Kohl é o cidadão alemão que recebe o conjunto de reformas estatais mais elevado da República com cerca de 40 000 euros mensais.

As eleições do passado dia 27 demonstraram não só que a história não acabou mas que muita coisa está em movimento. É neste contexto marcado por uma crescente tomada de consciência das massas populares e de recusa de uma politica que está a conduzir os povos para o abismo que os comunistas com as suas propostas e ideais, com a sua experiência histórica de luta e resistência vão continuar a ter um papel decisivo na ruptura com a lógica desumana do sistema capitalista e no encontrar de soluções que abrirão o caminho ao socialismo.

Avante - 01.10.10

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