Os dois maiores partidos alemães voltaram a recuar nas eleições legislativas de domingo, 27, obtendo os piores resultados da sua história.
A vitória mitigada dos conservadores e o acentuado recuo dos sociais-democratas espelham a descrença do eleitorado alemão nos dois principais partidos que desde o final da II Guerra presidem aos destinos do país.
Depois de terem colocado alto a fasquia para as legislativas, pedindo «40 por cento ou mais», os conservadores liderados por Angela Merkel tiveram de se contentar com 33,8 por cento, uma descida de 1,4 por cento em relação a 2005 (35,2%), e o seu pior resultado desde 1949, ano em que obtiveram 31 por cento dos votos.
Mais pesada foi a derrota dos sociais-democratas, partido que entrou em declínio eleitoral após ter protagonizado os maiores ataques contra os direitos sociais durante os dois governos liderados por Gerhard Schroeder.
Reduzido a 23 por cento dos votos, o SPD perdeu 11 pontos percentuais em relação às legislativas de 2005 (34,2%). A votação de domingo representa para os sociais democratas de longe o seu pior resultado desde a fundação da República Federal Alemã em 1949. Nesse ano obtiveram 29,9 por cento, descendo ligeiramente em 1953 para 28,8 por cento. A partir daí os sociais-democratas nunca mais ficaram abaixo dos 30 por cento.
Vitória dos «pequenos»
Em contrapartida, o eleitorado reforçou os pequenos partidos situados tanto à direita como à esquerda da actual «grande coligação». Os liberais (FDP) alcançaram a sua maior votação de sempre com 14,6 por cento dos votos (9.8% em 2005), atingindo o objectivo que perseguiam há 11 anos de formar uma coligação de governo com os conservadores.
À esquerda, o partido Die Linke registou uma assinalável progressão para 11,9 por cento (8,7 em 2005), confirmando-se como a quarta força política, depois dos liberais e à frente dos Verdes, partido que também aumentou sensivelmente de 8,1% em 2005 para 10,5%, ultrapassando pela primeira vez a barreira dos 10 por cento.
Em termos de mandatos, os conservadores elegeram 239 deputados, o SPD ficou-se nos 146, o FDP 93, o Die Linke 76 e os verdes 68.
Após décadas em que representaram a esmagadora maioria do eleitorado, a erosão eleitoral do CDU/CSU e do SPD alterou profundamente o quadro político na Alemanha. Hoje, estes dois grandes partidos juntos somam apenas 56,8 por cento dos votos, a mais baixa representatividade de sempre. Ainda em 2005 recolheram 69,4 por cento dos votos e em 2002, 77 por cento. Em 1987, os dois somaram 87 por cento dos votos.
Todavia, apesar desta reviravolta no xadrez político alemão, não é provável que se verifiquem alterações no rumo da governação.
O esvaziamento do SPD significa o seu regresso à oposição. O lugar que deixa vago no governo já foi prometido por Angela Merkel aos liberais do FDP. E daqui não se esperam boas notícias para o povo. O FDP fez campanha em defesa de mais reformas anti-sociais, exigindo a liberalização dos despedimentos e a diminuição dos impostos às empresas e às grandes fortunas. Tudo, é claro, em nome da economia.
Abstenção recorde
Tradicionalmente, as eleições na Alemanha distinguem-se por uma elevada taxa de participação. Com excepção das primeiras eleições em 1949, que registraram uma afluência às urnas de 78,5 por cento, todas as posteriores ultrapassaram os 84 por cento, tendo por várias vezes atingido os 91 por cento.
Desta vez, porém, muitos eleitores ficaram em casa, fazendo com que, pela primeira vez no pós-guerra, taxa de participação descesse para os 72,5 por cento. Um resultado que não conta para o parlamento, mas constitui um sinal inequívoco de insatisfação e descrença de amplas camadas da população, às quais o sistema político nada tem a oferecer senão condições de vida cada vez mais degradadas.
Avante - 01.10.10
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
01/10/2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário