Mais de 50% das 2143 famílias que já pediram ajuda enfrentam não só o desemprego mas também salários em atraso e o não pagamento de horas extraordinárias
O desemprego e os salários em atraso estão a fazer disparar os casos de sobreendividamento em Portugal. De acordo com os últimos dados dos diversos gabinetes de apoio ao sobreendividado (GAS) da Deco - Associação de Defesa do Consumidor, ascende já a 2143 o número de famílias que pediram ajuda até ao final de Setembro, mais 62,3% do que em igual mês do ano passado.
Este montante ultrapassa já em 5,3% o total de pedidos de auxílio que chegaram a estes gabinetes de apoio no ano passado, que totalizaram 2034.
O crescimento destes processos, que dizem respeito a pessoas singulares que estão de boa-fé e já não conseguem fazer face ao conjunto das suas dívidas não profissionais, tem sido exponencial. Entre 2005 e Setembro de 2009, o número de pedidos recebidos pelos diversos GAS da Deco quase triplicou, com um crescimento de 190%.
"Os números deste ano reflectem a conjuntura que vivemos e em especial um novo fenómeno associado à instabilidade do trabalho", disse ao DN Natália Nunes, responsável da Deco por estes gabinetes.
Como explica esta técnica, não são só as situações de desemprego que levam as pessoas a entrar em incumprimento perante a banca. "O não pagamento atempado dos vencimentos, os salários em atraso e até o não pagamento de horas extraordinárias, está a impedir muitas famílias de liquidarem as prestações dos seus empréstimos, entrando em dificuldades", esclareceu ainda.
O desemprego e estas situações de instabilidade profissional já representam mais de 50% dos processos de sobreendividamento que chegam à Deco, indica Natália Nunes. Em segundo lugar, surgem as situações de doença, com a consequente redução do rendimento mensal das famílias como causa do aumento dos sobreendividados.
Em terceiro lugar, continua a ser o divórcio o que leva algumas famílias a deixarem de honrar os seus compromissos de crédito.
O aumento do sobreendividamento ocorre, ainda assim, num quadro de redução das taxas de juros, que parece ser insuficiente para fazer face aos problemas decorrentes da instabilidade laboral em maior escala.
Analisando os dados da Deco referentes ao corrente ano, o mês de Março foi o que registou o maior número de pedidos de auxílio, com 321 processos, logo seguido do mês de Setembro, quando 276 famílias sobreendividadas recorreram aos diversos GAS existentes em várias capitais de distrito. Um sintoma do fecho de muitas empresas no final das férias, com os trabalhadores a entrarem em dificuldades.
No que respeita à divisão por delegações da Deco, é em Lisboa que se concentra a maioria dos processos de sobreendividados, com 112 casos entrados no último mês. Segue-se-lhe a delegação do Norte, com 70 pedidos, e Coimbra, com 27.
D.N. - 02.10.10
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