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27/10/2009

Dinheiro escasseia para maioria dos portugueses



O último Eurobarómetro sobre pobreza e exclusão social revela que 62 por cento dos portugueses admitem encontrar alguma dificuldade em gerir orçamentos com os rendimentos domésticos mensais, enquanto 15 por cento reconhecem ser difícil. À escala dos 27, nove em cada dez europeus defendem mais empenho dos poderes políticos no combate à pobreza.

Levado a efeito na antecâmara do Ano Europeu contra a Pobreza, que é assinalado em 2010, o Eurobarómetro coloca Portugal acima da média dos 27 países-membros da União Europeia no que diz respeito aos segmentos de inquiridos que admitem ter alguma dificuldade ou dizem mesmo ser difícil sobreviver com o rendimento doméstico mensal - 56 e 12 por cento, respectivamente.

Apenas 21 por cento dos portugueses afirmam gerir os seus rendimentos com facilidade até ao fim do mês. Neste plano, o país fica abaixo da média da União Europeia, que se cifra nos 30 por cento.

Em Portugal, revela ainda o inquérito Eurobarómetro, 88 por cento dos inquiridos vê a pobreza como um fenómeno generalizado, contra a opinião de apenas 12 por cento. A média europeia é 73 por cento contra 25 por cento.

Pobreza preocupa nove em cada dez europeus

Na leitura das opiniões recolhidas entre os 27, o Eurobarómetro indica que nove em cada dez cidadãos europeus - 87 por cento - acreditam que as situações de pobreza impedem o acesso a habitação condigna. Oito em cada dez entendem que cria obstáculos no acesso ao ensino superior, ou à educação de adultos, e 74 por cento vêem no fenómeno um factor negativo na procura de emprego.

Por outro lado, 60 por cento dos inquiridos considera que a pobreza dificulta o acesso a um ensino básico de qualidade e 54 por cento vêem um nexo directo entre as situações de carência material e a dificuldade em manter amigos e outros contactos sociais.

A grande maioria dos europeus - 73 por cento - encara a pobreza como um fenómeno em progressão nos respectivos países. De entre as principais causas da pobreza e da exclusão, 52 por cento destacam o desemprego e 49 por cento os baixos salários. Outros dos factores de base citados no inquérito são a insuficiência das prestações sociais e das pensões, referida por 29 por cento dos inquiridos, e o custo da habitação, referido por 26 por cento. Já no que toca às justificações de índole pessoal, 37 por cento dos inquiridos assinalam a falta de educação, formação ou competências, 25 por cento a pobreza herdada e 23 por cento a toxicodependência.

"Combate à pobreza no cerne das preocupações"

Para o comissário europeu dos Assuntos Sociais, os dados do Eurobarómetro "mostram até que ponto os europeus estão conscientes dos problemas da pobreza e da exclusão social na sociedade de hoje e querem que se faça mais para os resolver".

"O ano europeu que assinalaremos em 2010 será a oportunidade perfeita de colocar o combate à pobreza no cerne das preocupações em toda a UE", afirmou Vladimir Spidla, citado pela agência Lusa.

O Eurobarómetro sobre pobreza e exclusão social foi levado a cabo entre 28 de Agosto e 17 de Setembro de 2009. Foram quase 27 mil os cidadãos de todos os Estados-membros da União Europeia entrevistados presencialmente. Os inquiridos foram seleccionados de modo aleatório.

Fome atinge dezenas de milhares de idosos em Portugal

Os dados do Eurobarómetro são conhecidos no mesmo dia em que a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) assinala, na extrapolação dos resultados de um inquérito, que existem pelo menos 40 mil idosos no país sem dinheiro para uma alimentação completa e saudável. O estudo, a publicar na edição de Novembro da revista Proteste, teve por base um questionário remetido em Fevereiro e Março de 2009 a uma amostra representativa da população entre os 65 e os 70 anos. Responderam ao inquérito 3.423 portugueses.

Setenta e seis por cento dos inquiridos têm "hábitos alimentares pouco saudáveis, os quais pioram com o avançar da idade". Apenas um quarto indicou praticar uma alimentação saudável. Os autores do estudo chegaram à conclusão de que três por cento dos inquiridos passaram fome na semana anterior às respostas.

A "difícil situação económica e a falta de autonomia", sublinham os autores, "influenciam de forma negativa o que se come: mais de um quinto dos inquiridos indicou ter dificuldades financeiras".

"É exactamente a situação financeira, entre outros factores, que irá influenciar o que os idosos irão comer. Verificamos também, neste estudo que fizemos, que apenas 24 por cento dos idosos revelaram ter uma alimentação saudável", afirmou à Antena 1 Dulce Ricardo, autora do inquérito.

Entre as razões referidas pelos idosos para a má alimentação estão os problemas de saúde dentária (35 por cento), as dificuldades económicas (24 por cento), a falta de apetite (13 por cento) e os medicamentos (12 por cento). Os intervalos entre refeições e a má qualidade das dietas são outros dos factores apurados no estudo.

"A maioria não come a quantidade suficiente de vegetais, fruta e peixe. Contrariamente, existe um grande exagero no consumo de doces. Portanto, existem idosos que consomem mais de duas vezes por dia doces, quando se preconiza o máximo de uma vez por semana", frisou Dulce Ricardo.

"Sete por cento dos idosos admitiram não tomar o pequeno-almoço, o que também é muito mau para a sua saúde, dado preconizar-se o máximo de período nocturno de jejum de dez horas. Ao não tomar o pequeno-almoço, isso irá pôr em causa essas horas, irão estar muitas horas sem comer", acrescentou.

Os autores do inquérito consideram "urgente que se faça um levantamento das condições sociais em que vivem os idosos em Portugal".
RTP - 27.10.09

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