David Brooks
As grandes empresas financeiras salvas este ano com centenas de milhares de milhões de dólares de subsídios públicos estão a pagar aos seus executivos as maiores luvas da história, enquanto a taxa de desemprego chegou ao seu nível mais elevado no num quarto de século, e um em cada seis estadunidenses [16,7%] vive hoje na pobreza.
O furor provocado por esta notícia obrigou o governo de Barack Obama a adiantar hoje [21 de Outubro] que nos próximos dias anunciará medidas que ordenarão uma redução até 50% dospacotes de compensação total aos 25 executivos mais importantes de sete das principais empresas financeiras salvas pelo governo federal. Entre as empresas estão o Citigroup, a General Motors e o Bank of América.
Terça-feira, dia 20, Obama repreendeu uma vez mais o sector financeiro, num discurso em que afirmou: sabemos que não devemos mais enfrentar uma potencial calamidade pela especulação imprudente de uns quantos, e reiterou que é necessário promover reformas legislativas para impor medidas que impeçam a repetição desta crise, o que se opõe Wall Street e os seus aliados.
Mas este discurso também não deve perturbar a festa dos banqueiros.
As sete empresas que serão afectadas pelas novas medidas não incluem as empresas fnanceiras mais poderosas de Wall Street, como o Goldman Sachs, o Morgan Stanley ou o JP Morgan Chase, entre outras que – dizem os críticos e analistas – estão a regressar, em grande velocidade, aos mesmos negócios especulativos de alto risco que detonaram a crise.
No passado dia 15 de Outubro Wall Street celebrou – com bonés, balões e tudo o mais – a superação pelo índice de Dow Jones da bolsa de valores de Nova Iorque dos 10.000 pontos, uma recuperação de 53% desde que bateu no fundo em Março passado. Ao mesmo tempo, empresas financeiras salvas pelo erário público, anunciaram em um terceiro trimestre de lucros, alguns assombrosos, depois de há um ano estarem à beira do abismo, antes do programa de salvação governamental de 700 mil milhões de dólares.
Reaparecem o champanhe e o caviar, enquanto se calcula que as luvas para os executivos de empresas como Goldman Sachs (que terá destinado 23 mil milhões em títulos para esse efeito), JP Morgan Chase e Morgan Stanley poderiam ascender, no total, a mais de 140 mil milhões de dólares, a maior recompensa da história das 23 empresas financeiras, de acordo com o Wall Street Journal.
Por outro lado, o New York Times noticia que uma mulher, que antes era directora de um albergue para sem abrigo, ficou sem casa e vive agora num albergue, tal como outros milhões de pessoas.
Para milhões de estadunidenses não há nada para festejar, e não foram convidados para a festa que eles pagaram. Tudo isto criou um grande problema político para o governo de Obama, pois a percepção é que enquanto os mais ricos se felicitam pelas suas grandes fortunas e proclamam o fim da crise, para quase todos os outros as coisas estão piores.
Além disso, a taxa de desemprego é de quase 10% (ultrapassa os 16% se somarmos o sub-emprego), há cerca de 7,5 milhões de casas à espera do julgamento de execução de hipotecas (um número sem precedentes), e houve já um incremento de 34% de insolvências pessoais entre Janeiro e Junho deste ano, em comparação com igual período do ano anterior.
A tudo isto acresce o facto de o crédito às pequenas e médias em+presas ainda não fluir, de o governo continuara a absorver bancos de pequena e média dimensão em falência por todo o país, de os governos estaduais continuarem à beira da bancarrota e de haver mais fome que nunca (36 milhões de estadunidenses dependem da assistência federal para se alimentar).
WALL STREET RI-SE
ENQUANTO OS POBRES SÃO VOTADOS AO ABANDONO
Um novo relatório da Academia Nacional de Ciências difundido esta semana, e que utiliza uma fórmula revista, supostamente mais precisa, revela que um e cada seis estadiunidenses vive agora na pobreza. O novo cálculo de 47,4 milhões em condições de pobreza apresenta mais 7 milhões que o número oficial apurado pelo censo.
Em contraste, a generosidade do governo com os ricos parece mior do que o anunciado. Nomi Prins, perita financeira que trabalhou em Wall Street, informa no The Nation que o programa federal dos 700mil milhões de dólares é apenas uma fracção do subsídio federal ao sector financeiro, o qual el calcula em 17,5 biliões de dólares.
Wall Street ri-se de nós. As gigantescas firmas de Wall Street provavelmente teriam fechado se os contribuintes não tivessem dado biliões de dólares em fundos de resgate e apoio, destacou Robert Weissman, presidente do Public Citizen, principal organização nacional de defesa do consumidor. Agora, disse, um ano passado sobre o resgate, estes executivos atrevem-se a pagarem a si mesmos somas recorde de remunerações extraordinárias. Estes pagamentos obscenos de Wall Street deveriam ter dado uma sacudidela no Congresso e levarem a apertadas regulações, já que são o resultado das mesmas práticas que levaram o sector à crise, alertou.
O colunista do New York Times, Bob Herbert, escreveu que durante as últimas décadas deu-se cada vez mais dinheiro aos ricos e abandonámos os pobres, estrangularam a classe média, e quase sofremos a falência do governo federal, enquanto deram aos bancos e mega-empresas e ao resto dos que estão em cima da pirâmide económica quase tudo o que desejaram. E acrescentou que enquanto milhões sofrem o desemprego, Wall Street festeja. O que assombra é a passividade em que a população permaneceu face a esta atrocidade sustentada, lamentou.
O capitalismo é a legalização desta avareza, comentou em entrevista a The Nation o cineasta Michael Moore, que no seu último filme, Capitalismo: uma história de amor, documenta o desastre financeiro e as suas consequências no povo.
ODiario.info - 29.10.09
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
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