Empresa dispensa 300 trabalhadores e 800 têm contratos suspensos por seis meses. Rúben Fangueiro, um dos dispensados, conta como ficou feliz ao entrar na Qimonda e a amargura dos últimos meses. O ministro Manuel Pinho acredita ainda na viabilização.
A notícia apanhou-o a terminar as férias. Dormiu mal, pressentia que na manhã seguinte "algo de desagradável iria acontecer". E não se enganou. Rúben Fangueiro, 29 anos, é um dos 300 trabalhadores da Qimonda que, em breve, receberá a carta de cessação de contrato. Trabalha há quase dois anos na empresa, a incerteza dos últimos meses, "o não saber o dia de amanhã", diz, alterou-lhe o sistema nervoso.
Operador especializado de produção, Rúben esperava o desfecho assim, "mas mais tarde". Havia, contudo, um sinal perturbador: "O material escasseava e não chegava matéria-prima" à Qimonda, de Vila do Conde, que fica na Av. 1.º de Maio, e ontem foi agreste para muito dos seus trabalhadores.
Nasceu e vive nas Caxinas, zona piscatória e uma das mais flageladas pelo desemprego no concelho vilacondense. O pai e dois irmãos andaram na faina, ele teve a "sorte de não precisar de ir para o mar". Em terra, enfim, as coisas também não têm sido fáceis. O primeiro emprego, num armazém, Rúben fez um pouco de tudo, de repositor a caixa. Esteve neste posto de trabalho três anos, com contrato a prazo. Ficou feliz no dia em que assinou o contrato, a termo certo, e ingressava na Qimonda, "ia ganhar experiência". Teve várias acções de formação, pensou que a próspera empresa não poderia ter o mesmo destino da Fábrica de Mindelo, localizada mesmo em frente, uma das mais importantes empresas têxteis do País, agora em ruínas.
A Qimonda "era uma empresa muito boa", embora o horário de trabalho fosse um pouco anormal. Doze horas por dia, "das 7 da manhã às 7 da tarde". Mas isso, enfim, não quebrava o ânimo, o orgulho de trabalhar na unidade fabril que mais exportava em Portugal, referência constante em discurso de ministros.
"Posso refazer a minha vida, procurar com outro ânimo, agora que o desemprego é uma certeza, novo posto de trabalho", refere. O facto de ser solteiro, considera, tem uma vantagem nesta situação amarga: "Tenho colegas casados que vão sofrer muito." Rúben terminava o contrato em Agosto. Vai deixar a Qimonda com uma crítica dura aos administradores. "Eles andaram a adiar, a esconder a verdadeira situação da empresa aos trabalhadores: e isso não se faz."
Ontem de manhã, a Qimonda Portugal, em comunicado, anunciava que vai "salvaguardar 1000 postos de trabalho, enquanto procura soluções de viabilização. Desse conjunto, 200 trabalhadores manterão a operacionalidade da empresa e 800 vão ter os contratos suspensos por seis meses.
A maior empresa exportadora do País tinha 1637 trabalhadores em Janeiro, mas desde essa altura foram já dispensadas cerca de três centenas de funcionários. Ontem, a administração da Qimonda comunicou a dispensa de mais 300 funcionários com contrato a prazo, entre eles Rúben Fangueiro.
No comunicado, a empresa diz que a medida foi tomada juntamente com o administrador de insolvência da Qimonda Portugal e irá afectar "principalmente, trabalhadores com contratos a termo".
Uma equipa "de cerca de 200 pessoas" manterá a "operacionalidade da empresa e trabalhará na procura de soluções de continuidade do negócio". Os restantes 800 trabalhadores, "que se considera vir a ser necessários numa solução de viabilização da empresa", ficam com contratos de trabalho suspensos durante seis meses.
O ministro da Economia, Manuel Pinho, reafirmou ontem que há possibilidade de investidores internacionais estarem ainda interessados na Qimonda. E, garantiu, o Governo vai tentar recuperar todas as verbas atribuídas à multinacional alemã.
D.N. - 15.04.09
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