À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

16/04/2009

Uma ajuda desinteressada

Filipe Diniz

O arquivo de opiniões do PS encerra tesouros. Uns estão um pouco gastos, porque acaba por cansar deparar com as contradições de sucessivas gerações de troca-tintas.
Mas outros são pérolas. Por exemplo: essa luminária que se chama Augusto Santos Silva produziu (Público, 8-9-2002) a afirmação, lapidar e inesquecível, de que «o PS não deve afirmar-se nem pró nem contra o capitalismo: foi nessa recusa que se formou o socialismo democrático».
Esta profissão de fé no mais desavergonhado oportunismo deve estar inscrita em letras de ouro na sede do Rato. Foi com esta ideologia e este ideólogo que o PS deu os passos que faltavam no terreno da política de direita. Nunca desde o 25 de Abril o capitalismo encontrara um partido que, não sendo «nem pró nem contra o capitalismo», executasse com tão canina obstinação as políticas do grande capital.
Afundou o país na crise, e agora que ela se insere na «mais profunda e sincronizada crise financeira do nosso tempo» e com o comércio mundial «em queda livre», nas palavras da insuspeita OCDE, os propagandistas PS estão algo descalços.
Mas, se o pior da crise ainda está para vir, as suas consequências políticas (naturalmente contraditórias) também estão em desenvolvimento, e irão decerto muito fundo.
Uma sondagem divulgada na passada semana nos EUA deixou alguma gente alarmada. Apenas 53% dos norte-americanos consideram o capitalismo superior ao socialismo. Nos que têm idade inferior a 30 anos essa percentagem baixa para 37%. Nessa mesma faixa etária 30% consideram o socialismo superior ao capitalismo.
O choque foi violento. Vários comentadores (citados pelo New York Times) divergiram. Uns opinam que os inquiridos não sabem do que estão a falar. Outros lastimam as fraquezas do sistema de ensino que permite tais devaneios. Outros acham que a culpa é dos conservadores, que chamam «socialista» tudo o que não encaixa nos interesses do grande capital. Alguns, por estranho que pareça, interrogam-se se o capitalismo não terá perdido um pouco do seu encanto com o colapso da economia. Em resumo, estão confusos.
Não poderíamos, com algum egoísmo nacional, enviar em seu auxílio o «socialista» Santos Silva?
Avante! - 16.04.09

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