Várias unidades do SNS assumem não cumprir as recomendações da Ordem dos Médicos sobre o número de especialistas em medicina interna nas urgências. E referem que o risco de erro médico está a subir.
Há muitos hospitais públicos que têm urgências a funcionar sem o número mínimo de especialistas de medicina interna recomendado. A Ordem dos Médicos estabelece mínimos de acordo com o número de pessoas atendidas diariamente, mas hospitais como o do Barreiro, Faro e Viseu, entre outros, assumem que nem sempre os respeitam. O médico internista Luís Campos alerta que "os doentes correm mais riscos nas urgências e que, ao perderem clínicos experientes, há risco de haver um aumento de erros".
"Temos tentado minimizar os riscos para o doente, mas tudo pode acontecer", diz fonte do Hospital do Barreiro, que acredita que a qualidade e a segurança dos cuidados aos utentes tem estado em causa. Esta é uma das unidades que está a viver uma situação mais complicada, por não ter clínicos para assegurar as urgências.
O DN apurou que, no último ano, saíram seis especialistas porque atingiram o limite legal para deixar de fazer bancos. Alguns assumem que fariam bancos na mesma, se não estivessem descontentes. Uma fonte da unidade, que pediu para não ser identificada, contou ao DN que semanalmente há sete equipas de quatro pessoas na urgência. As regras ditam que três delas sejam especialistas de medicina interna, a que se junta um interno (pelo menos) do quarto ano desta especialidade ou de outra. Os internistas são os médicos preparados para fazer todo o tipo de diagnóstico aos utentes que recorrem aquele s serviços para depois os reencaminharem.
No Barreiro, em Março e em Abril não se cumpriram os mínimos por diversas vezes. "Houve dias em que não estiveram os quatro elementos. Num dia não havia um único internista disponível e teve de se pedir a outro para fazer novo banco", explica a mesma fonte. Por vezes há apenas dois internistas a trabalhar com médicos em formação que têm o primeiro ou segundo ano de especialidade, conta. "O trabalho duplica porque têm de ser tutelados." Já os tarefeiros contratados para colmatar as carências faltam repetidas vezes, "por vezes sem avisar e nem sempre são internistas", acrescenta. O Conselho de Administração do hospital assume o problema, mas garante que estão a reorganizar "os recursos existentes, de forma a minimizar a necessidade de recorrer a serviços externos. Além disso, estão a "adquirir serviços de médicos especialistas".
Helena Gomes, directora clínica do Hospital de Faro, diz também estar a braços com o mesmo problema. A unidade devia ter "três internistas, mais dois internos da especialidade, mas há dias em que a regra não é cumprida, tendo de se recorrer a outras especialidades". A unidade está a rever os quadros e a alterar escalas.
A situação repete-se eno São Francisco Xavier, Garcia de Orta ou Centro Hospitalar de Coimbra. Também em Viseu, a falta de internistas agrava-se. O Ministério da Saúde diz desconhecer. E estranha que situações como a do Barreiro não lhe tenham sido reportadas.
Luís Campos, do Hospital S. Francisco Xavier, coloca a tónica na escassez de médicos. "Numa urgência, os riscos são grandes para o utente, por isso é que é tão importante que haja médicos com experiência e capacidade de decisão diagnóstica e clínica", o que torna os médicos internistas tão importantes neste serviço.
Numa altura em que "se está a substituir médicos com tanta experiência por outros menos diferenciados, há um aumento dos riscos e do erro médico". A isto junta-se o facto de os médicos trabalharem em turnos de 12 ou 24 horas, com grande "sobrecarga física e diminuição da performance". A falta de médicos da especialidade, a reforma de outros e a possibilidade de deixar de fazer urgências, a partir dos 50 anos, tem complicado a situação. Além disso, "a procura das urgências continua a aumentar, quando devia diminuir". Luís Campos não hesita em dizer que "este problema é apenas a antecipação do que vai suceder em 2013" .
D.N. - 15.04.09
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