Octávio Teixeira
Regresso ao tema das privatizações, agora a propósito da decisão do Governo de acabar unilateralmente com os privilégios de que beneficiavam as acções que detém em três "jóias da coroa" da economia portuguesa: EDP, GALP e PT.
Com essa decisão o Governo abriu a época de saldos nas privatizações, oferecendo o valor estratégico que essas acções representavam em vez de o vender. Quando as restantes acções daquelas empresas foram privatizadas os compradores pagaram um preço abaixo do seu valor, porque o Estado mantinha direitos especiais que limitavam o poder de decisão dos accionistas privados em questões estratégicas. Agora o Governo nem sequer se preocupou com a recuperação desse abatimento de preço.
O Ministro das Finanças sustentou que essa mais-valia para o Estado se concretizaria quando da venda efectiva das acções, porque para os accionistas o valor das empresas aumentaria com esta decisão. Não é credível que se trate de mera ingenuidade. Que o valor para os accionistas aumenta é um facto. Mas quando delas se desfizer o Estado vai vender acções ordinárias e não acções privilegiadas, pelo que não recuperará nada.
E se isto se aplica a todas as empresas em causa, é claríssimo no caso da PT. Os factos de ter sido a "golden-share" a impedir a OPA da Sonaecom sobre a PT e (numa primeira fase) o negócio da VIVO por parte da Telefónica, contra a vontade de accionistas privados, mostra o elevadíssimo valor efectivo das 500 acções que o Estado detinha.
O Governo irá agora vendê-las por… 3.300 euros (à última cotação). Em suma, o Governo quis presentear os accionistas privados com o valor económico-estratégico das participações estatais. É um inadmissível crime de muitos milhões contra os interesses financeiros do Estado.
Sem comentários:
Enviar um comentário