À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

14/04/2011

O que existe abaixo da baixa política?

Filipe Diniz

A política de direita tem os protagonistas que merece.
Nem poderia ter outros: troca-tintas, aldrabões, hipócritas, gente que anda com um pé dentro e outro fora da lei, há de tudo. Este fim-de-semana mostrou-os em todo o seu esplendor.
Naturalmente que a maior concentração esteve no Congresso do PS, encenação afinada de um dos mais completos espectáculos de desonestidade intelectual, política e ideológica que as televisões fizeram chegar às nossas casas.
O partido que agravou nos últimos anos a política de afundamento do País passou dois dias a gabar-se da obra feita e a alijar culpas a eito. A ter a lata de apelar ao «voto útil da esquerda».
Na situação de desespero actual e com a proximidade do voto popular, o PS e o PSD entram em delírio. O congresso do PS foi o que se viu: estão dispostos a tudo. O PSD veio acrescentar à burla eleitoralista das «eleições para primeiro-ministro» uma nova burla, a do «candidato a presidente da AR». E candidata a essa ficção eleitoral uma ficção política, Fernando Nobre, que há apenas três meses era o «candidato anti-sistema» nas presidenciais.
Estes partidos, os principais responsáveis políticos juntamente com o CDS e com Cavaco Silva pela situação a que o País chegou, não encontraram outra forma de agir senão entrar pelo caminho da farsa.
Cabe ao povo português lembrar que por detrás da farsa se esconde um trágico rumo de desastre. A intervenção estrangeira directa está a caminho, e os jornais lá fora falam claro: «o pacote da “ajuda” será mais duro e mais alargado do que o PECIV», e «terá de estar acordado até meados de Maio, de modo a que não possa ser desautorizado pelas eleições de 5 de Junho» (Guardian, 8.04.2011). Antes que o povo se pronuncie, a UE, o FMI e os partidos da política de direita querem impor, em termos de autêntica humilhação nacional, a política que o capital financeiro mandou executar.
Mas a última palavra caberá ao povo, não à baixa política. Os partidos da política de direita há muito que sonham com a redução dos deputados à AR. Cabe ao povo reduzir na AR os deputados da política de direita.

http://www.avante.pt/pt/1950/opiniao/113952/ 

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