João Paulo Madeira
Os imigrantes em Portugal têm a vida mais complicada do que os trabalhadores portugueses. Não só estão mais expostos a vínculos precários e ao desemprego, como recebem salários 15% mais baixos, em média. As conclusões são de um estudo recente de duas investigadoras do Banco de Portugal (BdP), que fizeram um dos retratos mais completos até à data sobre a realidade laboral dos estrangeiros no país.
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=16487
Sónia Cabral e Cláudia Duarte analisaram os quadros de pessoal das empresas portuguesas, entre 2002 e 2008. Concluíram que, neste período, o salário médio dos trabalhadores nacionais foi de 837 euros, ao passo que o vencimento médio do conjunto de imigrantes se situou em 737 euros. As discrepâncias mais evidentes ocorreram nas comunidades cabo-verdiana e chinesa, com ordenados médios de 572 e 446 euros, respectivamente. As autoras constataram que cerca de 65% dos trabalhadores chineses recebiam o salário mínimo.
Apesar de tudo, a diferença salarial tem vindo a diminuir, já que os salários dos imigrantes têm vindo a crescer de forma mais acelerada do que os dos portugueses. E, se forem ponderados factores que podem influenciar os salários - como a idade, o género, a escolaridade e o tipo de contrato, entre outros -, a diferença salarial reduz-se para 8,5%. As autoras alegam que outros factores que não puderam estudar - como a fluência na língua ou a experiência no país - podem anular parte da restante discrepância entre vencimentos. Mas, em respostas escritas ao SOL, admitem que a discriminação de estrangeiros pode também ter algum efeito na diferença salarial. «O impacto da discriminação é muito difícil de medir econometricamente [...]. No caso da nossa regressão, em que são omitidas diversas variáveis importantes, é difícil interpretá-lo dessa forma, mas também não podemos excluir essa hipótese», referem.
Segundo as investigadoras, a OCDE estima a existência de 440 mil indivíduos estrangeiros em Portugal, ao passo que a análise do estudo se centrou nos 170 mil que constam da base de dados dos quadros de pessoal. Uma vez que os trabalhadores ilegais e as domésticas ficaram excluídos da análise, pode haver impacto desta falta de dados nos resultados obtidos.
Todos diferentes
As diferenças entre nacionalidades não ocorrem apenas nos salários. Os imigrantes estão mais sujeitos a vínculos mais flexíveis do que os portugueses. Nos regimes a tempo completo, mais de metade dos estrangeiros a trabalhar em Portugal tem contrato a prazo, ao passo que nos portugueses a percentagem desce para 24,6%. A duração média do emprego é de 7,4 anos no caso de quem nasceu em Portugal, e de 2,4 anos nos estrangeiros.
Os imigrantes estão também mais expostos ao desemprego, pois estão sujeitos a uma maior taxa de separação das empresas. Sónia Cabral e Cláudia Duarte concordam que é «lícito» inferir que os imigrantes estiveram mais expostos ao desemprego em 2009 e 2010, período que o estudo não cobre mas em que a destruição de postos de trabalho aumentou de forma mais acentuada. «A evidência do Inquérito ao Emprego do INE aponta nesse sentido: a taxa de desemprego dos imigrantes é superior e aumenta mais do que a dos nativos em períodos de recessão», dizem.
joao.madeira@sol.pt
Apesar de tudo, a diferença salarial tem vindo a diminuir, já que os salários dos imigrantes têm vindo a crescer de forma mais acelerada do que os dos portugueses. E, se forem ponderados factores que podem influenciar os salários - como a idade, o género, a escolaridade e o tipo de contrato, entre outros -, a diferença salarial reduz-se para 8,5%. As autoras alegam que outros factores que não puderam estudar - como a fluência na língua ou a experiência no país - podem anular parte da restante discrepância entre vencimentos. Mas, em respostas escritas ao SOL, admitem que a discriminação de estrangeiros pode também ter algum efeito na diferença salarial. «O impacto da discriminação é muito difícil de medir econometricamente [...]. No caso da nossa regressão, em que são omitidas diversas variáveis importantes, é difícil interpretá-lo dessa forma, mas também não podemos excluir essa hipótese», referem.
Segundo as investigadoras, a OCDE estima a existência de 440 mil indivíduos estrangeiros em Portugal, ao passo que a análise do estudo se centrou nos 170 mil que constam da base de dados dos quadros de pessoal. Uma vez que os trabalhadores ilegais e as domésticas ficaram excluídos da análise, pode haver impacto desta falta de dados nos resultados obtidos.
Todos diferentes
As diferenças entre nacionalidades não ocorrem apenas nos salários. Os imigrantes estão mais sujeitos a vínculos mais flexíveis do que os portugueses. Nos regimes a tempo completo, mais de metade dos estrangeiros a trabalhar em Portugal tem contrato a prazo, ao passo que nos portugueses a percentagem desce para 24,6%. A duração média do emprego é de 7,4 anos no caso de quem nasceu em Portugal, e de 2,4 anos nos estrangeiros.
Os imigrantes estão também mais expostos ao desemprego, pois estão sujeitos a uma maior taxa de separação das empresas. Sónia Cabral e Cláudia Duarte concordam que é «lícito» inferir que os imigrantes estiveram mais expostos ao desemprego em 2009 e 2010, período que o estudo não cobre mas em que a destruição de postos de trabalho aumentou de forma mais acentuada. «A evidência do Inquérito ao Emprego do INE aponta nesse sentido: a taxa de desemprego dos imigrantes é superior e aumenta mais do que a dos nativos em períodos de recessão», dizem.
joao.madeira@sol.pt
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