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14/11/2009

Fugas de informação desesperam o PS... a que propósito?

Circulam cada vez mais pormenores sobre as conversas de Sócrates com Armando Vara. O primeiro-ministro reagiu pedindo respostas urgentes ao procurador-geral da República: "Isto está a passar todas as marcas." Vieira da Silva fala em "espionagem política" e diz que a situação, em termos de fugas de informação, é "extremamente preocupante"

As fugas de informação no processo Face Oculta estão a deixar o PS desesperado. "Isto está a passar todas as marcas", disse José Sócrates, em resposta a uma manchete do semanário Sol dando mais pormenores sobre as escutas telefónicas de conversas suas com Armando Vara.

Segundo aquele jornal, Sócrates mentiu quando em Junho passado disse no Parlamento que nada sabia da intenção da PT de comprar a Media Capital, adquirindo assim a TVI ("Nada sei disso", afirmou). Isto porque, segundo as escutas citadas pelo jornal, três meses antes, em Março, Sócrates terá alegadamente falado do assunto com Vara.

O primeiro-ministro começou por uma palavra de apoio à investigação criminal em curso: "Com certeza que o caso Face Oculta merece ser apoiado por parte das autoridades políticas no seu desen- volvimento de investigação. Já disse o quanto me entristece esse caso pelo facto de um amigo meu [Armando Vara] estar nele envolvido, mas o meu dever é incentivar as autoridades a prosseguir no combate à corrupção. E vejo neste caso um evidente sinal de combate à corrupção, que é preciso apoiar."

Porém, "outra coisa muito diferente - e esse é o ponto e importa não confundir as coisas - é saber se durante meses a fio eu fui escutado - porque isto está a passar todas as marcas -, se essas escutas foram legais e se é possível fazê-las num Estado de Direito. Eu tenho o maior interesse em ser esclarecido sobre isso", afirmou.

Reforçando estar "à espera que esse esclarecimento se faça", acrescentou: "Desconheço as escutas, não estou a par de nada e sei apenas o que vem nos jornais. Espero que o senhor procurador [Geral da República, Pinto Monteiro], com o esclarecimento que prometeu, possa esclarecer-nos a todos." E repetiu: "A questão mais importante para mim é saber se, durante meses a fio, fui escutado, com as conversas a serem transcritas e gravadas, e se isso é legal e possível de ser feito num Estado de Direito."

Mas Sócrates recusou explicar o alegado conteúdo das conversas com Vara. "Fazem parte da reserva da minha vida privada, tive essas conversas com um amigo. Estou à espera que alguém diga se essas gravações são verdadeiras." Não negou, contudo tudo, que quando em Junho disse no Parlamento que nada sabia das intenções da PT sobre a compra da Media Capital (TVI), o fez a título oficial: "Uma coisa é naturalmente discutirmos, com amigos, como fiz, relativamente a notícias que são publicadas nos jornais e a conhecimentos informais; outra coisa é, como disse no Parlamento, como primeiro-ministro, o conhecimento oficial e o conhecimento prévio desse negócio. Não tenho nada a acrescentar ou a retirar."

O procurador-geral da República está agora sob forte pressão do PS para esclarecer as fugas e as condições em que José Sócrates terá sido interceptado.

Entrevistado na Antena 1, o ministro Vieira da Silva falou mesmo em "espionagem política": "O que motiva essas forças e as pessoas que estão por trás do que me parece ser uma ilegalidade não é qualquer averiguação relativamente a qualquer processo de corrupção, é pura espionagem política, porque estar a ouvir um dirigente de um partido que também é primeiro-ministro sobre temas políticos e depois colocá-los nos jornais através de escutas cuja legalidade é mais do que duvidosa, é algo de extremamente preocupante", afirmou.

D.N. - 14.11.09

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