Peso das famílias com dois elementos desempregados atingiu no segundo trimestre o valor mais alto desde, pelo menos, 1998. O risco de pobreza é maior nestes casos.
Mais de um quinto das famílias que enfrentam situações de desemprego têm dois membros do agregado nessa situação. E o problema tem vindo a ganhar expressão, revela Nuno Alves, investigador do Banco de Portugal.
As estimativas, que se referem ao segundo trimestre deste ano, mostram que em 21% das famílias que enfrentam situações de desemprego há duas pessoas à procura de trabalho.
Os dados do economista, que trabalhou a partir da informação apurada pelo Inquérito ao Emprego, do Instituto Nacional de Estatística (INE), apontam para a proporção mais alta desde, pelo menos, 1998. Mesmo nos anos mais recentes, a percentagem não foi além dos 19% (ver gráfico em cima).
O investigador, que apresentou as suas conclusões num colóquio organizado pelo Observatório das Desigualdades, optou por não apresentar os valores absolutos.
Salientando que não estudou pormenorizadamente as razões que levaram a este aumento, Nuno Alves avança, ao DN, algumas possíveis explicações. Por um lado, o aumento de falências em empresas que empregavam mais do que um membro da mesma família. Por outro lado, o crescente número de jovens à procura de trabalho que não conseguem sair de casa dos pais e que têm mais um parente desempregado.
Os estudos têm vindo a confirmar o que parece óbvio: famílias com mais de um membro desempregado estão mais expostas à pobreza.
Dados do Inquérito às Despesas das Famílias de 2005/2006, ontem citados pelo investigador, mostram o que acontece quando o desemprego afecta os dois membros do casal: a incidência da pobreza sobe para 48%, contra os 18,5% registados na população em geral.
As famílias pobres são mais penalizadas com o desemprego. O investigador refere que quando o chefe de família está desempregado, o agregado perde, em média, 30% do rendimento, também com base no Inquérito às Despesas das Famílias, de 2005.
A quebra é, no entanto, mais leve (cerca de 20%) no caso das famílias com maiores recursos, sendo mais penalizadora (acima de 40%) quando em causa estão agregados de estratos mais pobres. "É a prova de que o desemprego também contribui para a desigualdade", referiu.
Na intervenção que fez no Instituto de Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Nuno Alves referiu que "menos de metade dos desempregados" recebe subsídio de desemprego. Uma leitura que contraria a informação administrativa periodicamente divulgada pelo Ministério do Trabalho. A última informação, relativa a Setembro, aponta para 348 mil pessoas subsidiadas, cerca de 68% dos 510 mil registados nos centros de emprego.
Os investigadores do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) referiram, por outro lado, que a crise "atingiu vários grupos socioprofissionais". Renato Miguel do Carmo salientou que foi no grupo dos operários que em Setembro se deu a maior subida homóloga (58%) de registos nos centros de emprego. Logo a seguir surgem, porém, os quadros superiores da administração pública e das empresas (mais 33%).
A taxa de desemprego chegou aos 9,1% no segundo trimestre deste ano, depois de já ter registado valores historicamente elevados, sobretudo em 2006 e em 2007. Os observadores alertam para o risco do aumento estrutural da taxa e das situações de desemprego de longa duração.
No segundo trimestre deste ano, a duração média do desemprego era de 25 meses, revelam os dados apresentados por Nuno Alves. Num período sobretudo marcado pela explosão de novas situações de desemprego, a duração média caiu face ao máximo registado em meados de 2008, altura em que se aproximou dos 27 meses. A excepção está, curiosamente, nos mais qualificados. Entre a população com o ensino superior, o desemprego dura menos (22 meses), mas tem vindo a subir no último ano. Outros dados ontem apresentados revelam que a taxa de desemprego dos licenciados (5,9%) está acima da média da União Europeia.
D.N. - 12.11.09
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