Mais de uma centena de trabalhadores da Platex, em Tomar, está concentrada há dois dias à porta da empresa. Sem ordenados desde Abril e com um futuro muito incerto, o desespero tomou contou de todos.
Há alguns meses que se pressentia que algo não estava a correr bem. Mas com encomendas a chegarem e produto a sair, os 260 trabalhadores da Indústria de Fibras de Madeira (IFM/Platex) de Tomar mantinham-se optimistas quanto ao futuro.
Os primeiros sinais de incerteza surgiram no final de Março, quando a empresa decidiu pagar o ordenado em três vezes. Foi o último salário pago. Há já famílias em situações desesperantes, algumas que já não conseguem pagar a prestação da casa ao banco, ou mesmo a água e a luz.
Sem respostas da Administração, os trabalhadores decidiram concentrar-se à porta da empresa impedindo a entrada e saída de camiões. Desde as 11.30 horas de segunda-feira que os portões se mantêm encerrados e "vão manter-se por tempo indefinido", garantiu, ontem, António Monteiro, da comissão de trabalhadores.
Há 20 anos na Platex, este operário acusa a actual Administração de "má gestão", já que, alega, "esta empresa é a única do género no país e uma das maiores da Europa". António Monteiro garante que "nunca faltaram encomendas" e o trabalho "é muito". Questiona, por isso, "para onde foi o dinheiro?". "O dinheiro tem desaparecido muito rapidamente e para os trabalhadores não foi", disse, admitindo "haver indícios de gestão danosa e enriquecimento ilícito por parte da Administração".
Revelando que já esta semana "surgiram novas encomendas" António Monteiro diz que todos estão preocupados com o futuro da Platex, já que "cada dia ou cada hora de paragem corresponde a menos clientes". À luta dos trabalhadores juntaram-se quatro madeireiros que têm na empresa mais de dois milhões de euros em material.
De rostos sombrios, olhos lacrimejantes e de braços cruzados, a maioria dos trabalhadores começa a fazer contas à vida. Muitos são o único sustento das suas casas onde existem filhos menores. Fernando Cartaxo, 48 anos, tem dois filhos, um com 10 anos. Não paga renda da casa, mas tem outras contas. "Não sei o que fazer à vida se esta situação continuar", desabafa.
O Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação, do Ministério da Economia, está já a fazer uma avaliação do pedido da empresa para ser apoiada na aquisição de matéria-prima.
Na tentativa de solucionar o problema, o Sindicato da Construção, Madeiras, Mármores e Cortiças do Sul tem mantido outras reuniões, primeiro com o governador civil de Santarém e ontem mesmo com o presidente da Câmara de Tomar.
No final do encontro, sindicato e trabalhadores mostravam-se um pouco mais satisfeitos com o que foi conseguido. "A Administração prometeu pagar parte dos salários até sexta-feira, mas não disse quanto", revelou Aquilino Coelho do Sindicato. Contudo, num plenário de trabalhadores realizado ao final da tarde, ficou decidido que "o protesto vai manter-se". Segundo Aquilino Coelho, "os trabalhadores não vão desmobilizar da porta da empresa até receber a totalidade do salário de Abril".
O JN tentou falar com o presidente do Conselho de Administração da Platex, mas Themudo Barata não se mostrou disponível para responder às questões.
J.N. - 20.05.09
Sem comentários:
Enviar um comentário