O incumprimento nas dívidas de crédito vai subir fortemente este ano, alerta o Banco de Portugal. Nas empresas, com especial destaque para os sectores da construção e do imobiliário, poderá ficar 21% acima do máximo registado em 2003. Para as famílias, sobretudo as endividadas com créditos à habitação, o risco é o desemprego.
O incumprimento no crédito em Portugal vai acelerar em 2009 para o nível mais elevado dos últimos seis anos. As famílias, devido ao aumento do desemprego, e as empresas, perante o seu forte endividamento, vão enfrentar maiores dificuldades no pagamento das suas dívidas de crédito, com especial incidência nas empresas, como refere o "Relatório de Estabilidade Financeira de 2008", ontem publicado pelo Banco de Portugal.
O incumprimento deverá, assim, atingir um nível bem superior ao da última recessão de 2003. De acordo com uma projecção para a probabilidade do incumprimento em 2009, feita pelos técnicos do banco central a partir de uma amostra das empresas não financeiras, conclui-se que o valor projectado "corresponde a um aumento de cerca de 10% face a 2008 e situa-se 21% acima da probabilidade de incumprimento do anterior pico, ocorrido em 2003". E concluem: "Esta evolução ilustra bem o impacto do agravamento das condições macro-económicas sobre o incumprimento no crédito às empresas".
O forte endividamento de empresas e particulares (atingia os 3,1 mil milhões de euros em Fevereiro) é um dos principais riscos face à actual crise económica e financeira. No sector empresarial, os mais endividados são a construção e o imobiliário.
Para os particulares, os maiores perigos advêm do previsto aumento do desemprego, com o relatório a alertar para as "vulnerabilidades" das famílias com rendimentos mais reduzidos, bem como as mais jovens. O endividamento das famílias portuguesas é o segundo mais elevado da zona euro, com 75% deste crédito contraído junto dos bancos destinado à aquisição de casa própria, o que coloca os particulares numa situação de "grande sensibilidade à evolução das taxas de juro". O relatório indica que os incumprimentos mais elevados encontram-se entre os portugueses com créditos à habitação entre os 64 mil e os 108 mil euros.
Quanto ao desemprego, a sua intensidade e abrangência, refere o banco central, depende "não apenas da prevalência de empresas em situação financeira mais débil", como também da "duração da situação recessiva". Se a crise for prolongada, as empresas tenderão a dispensar trabalhadores de forma mais intensa, com reflexos "na evolução da situação financeira de um número significativo de detentores de dívida bancária".
Crítica à ajuda do Governo
O relatório chama a atenção para os riscos associados à recente medida tomada pelo Governo, de reduzir para metade a prestação dos empréstimos à habitação dos desempregados. Aponta para o facto de a medida ter "subjacente um diferimento dos encargos financeiros com a dívida actual, para um horizonte futuro", podendo "implicar para esse horizonte uma sobrecarga de esforço financeiro das famílias que agora beneficiem" .
Mas nem tudo são más notícias. Ao contrário de outros países, o sector imobiliário português não apresenta riscos de uma "bolha especulativa". Em Portugal, "os preços da habitação registaram crescimentos reais quase nulos ao longo dos últimos anos", considerando que uma eventual pressão descendente sobre os preços pode resultar "de uma deterioração profunda" da economia.
D.N. - 20.05.09
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