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13/02/2009

FAMÍLIAS SEM DINHEIRO AGRAVAM CRISE EM 2009

Com a queda do consumo das famílias, do investimento e das exportações, a economia portuguesa caiu 0,9% nos últimos três meses de 2008 e entrou em recessão técnica. Nos primeiros meses deste ano, a vida dos portugueses será também marcada pelo clima recessivo

A economia portuguesa terá recuado entre 0,9% e 1,1% nos últimos três meses de 2008 em relação ao mesmo período de 2007, com as famílias a não abrirem os cordões à bolsa, os patrões a encolher o investimento e as exportações a caírem a pique por causa da crise. Contas feitas, o País terá registado uma expansão de 0,3% em 2008. Mas hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE) deverá revelar que nos últimos meses do ano a economia entrou em recessão técnica, ao registar uma contracção da actividade no segundo semestre, o que não sucedia há cinco anos.

"O trimestre que passou deverá ter sido o mais penoso para as famílias", afirma Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, "em termos de pressão sobre os orçamentos familiares". O consumo dos lares deve ter aumentado 0,7% face a igual período de 2007, mas "terá observado uma queda de 0,8%" face ao trimestre anterior. Foi o tempo em que as taxas de juro ainda estavam elevadas e poucas famílias beneficiaram das quedas das taxas de juro ao longo dos últimos três meses do ano. "Os preços dos combustíveis estavam apenas a começar a cair", recorda a economista do BPI, ao mesmo tempo que sublinha o agravamento do desemprego.

Desde 2003 - quando o País estava em recessão - que o consumo não caía. Também Rui Constantino, economista no Santander Negócios, tal como Rui Serra, analista no Montepio Geral, estimam um recuo dos gastos das famílias em relação ao período de Julho a finais de Setembro. No Montepio, acredita-se que a riqueza (PIB) terá recuado 1% no último trimestre.

"Quase todas as componentes da actividade se degradaram" nos últimos meses do ano, afirma Rui Serra. O investimento poderá cair 3,5%, diz Rui Constantino, lembrando que já tinha descido 1,4% entre Julho e Setembro. A venda de cimentos registou uma forte queda, o que já obrigou as cimenteiras a reduzirem a actividade. A venda de "pesados" está também em queda e a produção de bens de equipamento esteve em degradação.

Com os principais parceiros comerciais de Portugal em recessão, as exportações recuaram nos últimos três meses do ano. "As exportações deverão ter registado uma queda de 2,2%" em relação a igual trimestre de 2007, refere Cristina Casalinho. Isto significa uma queda trimestral de 2,3%, quando no terceiro trimestre se tinha verificado uma contracção de 1% nas vendas para o exterior. Nos primeiros 11 meses do ano, as exportações aumentaram 1,8%, mas já em Novembro as vendas para a União Europeia registaram uma queda de 20,6%, face ao mesmo mês de 2007. Faltam os resultados de Dezembro, mas o Governo já prevê uma estagnação nas exportações, com a fileira automóvel e tecnológica (Autoeuropa e Qimonda) a cortarem a produção.

O contributo do comércio externo para o crescimento da economia não foi mais negativo graças à queda das importações. Estas deverão descer 1,2% face a 2007 (último trimestre), explicado pela queda no investimento empresaria e no consumo.
D.N. - Rudolfo Rebelo - 13.02.09

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