João Paulo Guerra
Depois de Joe Berardo ter defendido a mudança do sistema político, admitindo “um novo género de ditadura”, Rui Rio veio proclamar “o fim do regime nascido com o 25 de Abril de 1974”.
Assim é que é, abaixo o baile de máscaras dos oportunistas, quem não quer 25 de Abril que o diga, pois o 25 de Abril também se fez para isso mesmo. Acabe-se a mistificação de políticos portugueses envergonhados com o 25 de Abril, quando o 25 de Abril é que devia ter vergonha deles. Chegou a hora do despudor ao poder, usando a liberdade do próprio 25 de Abril.
A questão é que o 25 de Abril se fez com esse mas ainda com outros objectivos. Fez-se por três "dês" - Democratizar, Descolonizar e Desenvolver - e a frustração dos portugueses quanto à falta de cumprimento do terceiro "dê" abre caminho a todo o tipo de demagogia e populismo. Soube-se ontem que os portugueses são os europeus mais pessimistas quanto ao seu futuro. E a verdade é que nunca depois de Abril de 1974 Portugal esteve tão longe do "dê" do desenvolvimento como agora. A crise tem as costas largas. Mas a verdade é que a crise não faz de Portugal um país nivelado por baixo, numa espécie de "socialismo de miséria". Faz de Portugal um país ainda mais desigual, onde o número de ricos é cada vez mais restrito e mais rico e o número de pobres abrange um país inteiro de desemprego, precariedade, pensões de miséria, salários cortados, prestações e direitos sociais em extinção.
Mas a desigualdade, para além de ser moralmente injusta, é também perigosa. Berardo já vislumbra no horizonte cenários semelhantes aos das revoltas árabes. Daí a alusão a novos géneros de ditadura. Nesse sentido, Portugal bem podia acolher os tiranos em fuga do Magreb como conselheiros para a nova repressão do novo género de ditadura.
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