Maurício Miguel
26 de Dezembro. O Natal estava ainda fresco, as famílias, os amigos e demais participantes faziam o rescaldo das festividades, quando os meios de comunicação nacionais e um pouco de todo o mundo noticiaram que um jovem nigeriano tinha tentado fazer explodir um avião que fazia a ligação entre a Holanda e os EUA. Desde então e de uma forma massiva (quase equivalente ao que aconteceu depois do atentado de 11 de Setembro de 2001), voltámos a assistir a toda a exacerbação do medo para «justificar» o reforço da histeria securitária e de guerra que a dita luta contra o terrorismo tem alimentado. Apesar do imenso nevoeiro que enforma este acontecimento, regista-se desde já algumas contradições que é necessário sublinhar, nomeadamente: a informação de que os serviços secretos, tanto europeus como americanos, tinham sobre a actividade desse jovem como potencial terrorista com ligações à Al Qaeda, incluindo pelo seu pai, que terá ido à embaixada dos EUA na Nigéria referi-la; os seus contactos com ex-prisioneiros dos EUA, acusados de estarem envolvidos em anteriores atentados; a sua chegada e embarque em Amesterdão, onde terá sido ajudado a entrar no avião sem a documentação necessária, quando os procedimentos de segurança normais o tornam quase impossível para qualquer outro. Não é a isto que se têm referido responsáveis políticos da UE e dos EUA, como Gordon Brown (primeiro-ministro britânico), Luís Amado (ministro dos Negócios Estrangeiros português), incluindo o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que num gesto de quase penitência se afirmou responsável por aquilo a que chamou de «falhas de segurança potencialmente desastrosas», afirmando-se determinado a mudar as «falhas sistémicas» existentes. Fingidas preocupações de quem tem sido o principal financiador e receptor de terroristas, forjadas numa imensa hipocrisia sobre a segurança para insistirem numa política mais repressiva na segurança interna e no retomar das teorias dos «estados falhados» para acelerar uma política cada vez mais neocolonialista e de guerra.
É desta forma que Obama e os seus aliados na NATO prosseguem as «guerras preventivas», a ingerência, a violação da soberania e o alargamento da guerra a mais um país, o Iémen, num momento em que o aumento das tropas da NATO na região e o prosseguimento da guerra no Afeganistão é tão contestado. Sobretudo numa região com uma importância vital para o imperialismo pelos seus recursos naturais e pela sua importância geoestratégica, confirmado igualmente pela operação de ingerência desenvolvida pela NATO e pela União Europeia na costa da Somália, agora alargada ao interior do país.
De igual forma se estão a abrir as portas à supressão de mais direitos e liberdades nos EUA e na UE, vasculhando a vida das pessoas e o seu corpo, como acontece com a introdução dos body scanners (com um custo de 200 mil dólares cada um), cujo uso apenas poderá beneficiar quem os produz e vende, devassando a intimidade das pessoas, constituindo um risco potencial o uso com outros fins das imagens geradas por estes aparelhos. O uso é tanto mais inaceitável quanto os seus promotores sabem de antemão que estes aparelhos poderão não detectar explosivos de plástico ou que, como já aconteceu em outros ataques, podem ser escondidos explosivos no interior do corpo.
Estes processos evidenciam que o respeito pela democracia e liberdade de cada um não é o elemento guia mas antes os interesses do capital monopolista. Foram já vários os governos de países da UE que decidiram introduzir estes aparelhos e, se pensarmos na pressão que será exercida sobre outros países para introduzirem este e outros equipamentos que se produzirão, podemos estimar que se trata de um negócio de muitos milhões, cuja eficácia está à partida comprometida.
Torna-se cada vez mais evidente que estamos perante o redobrar de esforços dos EUA em concertação com a UE e com a NATO para fazerem frente a uma crise cuja saída não tem horizonte. E vale tudo; vale mesmo tudo.
As agências internacionais de informação difundem a versão do imperialismo. A comunicação social nacional reproduz acriticamente essa versão. São incomensuráveis os meios que o imperialismo tem em sua mão, particularmente em propaganda e poder militar. Os povos têm a força da resistência e da luta para o enfrentar. A sua luta em todos os países oprimidos e dependentes é (cada vez mais) uma luta comum que nos aproxima contra o imperialismo internacional.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32044&area=8
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
14/01/2010
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