Enquanto os grandes grupos financeiros anunciam a distribuição milhares de milhões de dólares em bónus aos accionistas e quadros executivos, milhões de trabalhadores norte-americanos são despedidos, engrossando o crescente número de pobres no país.
No final do mês de Dezembro, outros 85 mil postos de trabalho foram destruídos no sector privado, empurrando a taxa de desemprego admitida pelo Departamento do Trabalho dos EUA para valores superiores a 10 por cento.
Apesar deste ser já um dos valores mais elevados das últimos décadas, o registo oficial oculta parte da realidade. Se fossem contabilizados os trabalhadores não inscritos nos departamentos públicos de emprego por terem desistido de procurar trabalho face à evidente escassez de ofertas, e os trabalhadores que cumprem apenas meia jornada ou laboram noutro qualquer regime de tempo parcial, então a taxa de desemprego ascenderia a 17,3 por cento da população activa.
O valor condiz com as informações que afirmam que, só no ano passado, mais de 4,2 milhões empregos foram destruídos em resultado da crise capitalista. Este número sobe para mais de oito milhões se tivermos em conta a demolição de forças produtivas nos EUA desde 2007.
Senhas contra a fome
Neste contexto, não é de estranhar que mais de seis milhões de norte-americanos não tenham outra forma de rendimento senão as senhas de alimentação fornecidas pelo Estado.
Cálculos do The New York Times, baseados em dados oficiais, afirmam que um em cada 50 cidadãos norte-americanos não têm mais que 100 a 200 dólares mensais em senhas de alimentação, entre os quais se encontram muitos dos que nos últimos anos perderam o respectivo posto de trabalho ou viram os seus rendimentos caírem drásticamente.
O total de norte-americanos sem qualquer fonte de rendimento cresceu, nos últimos anos, em média, 50 por cento, indica o periódico. No estado do Nevada, a cifra triplicou, enquanto que na Florida e em Nova Iorque duplicou e no Minesota e Utah cresceu cerca de 90 por cento.
Tal deve-se não apenas à indiferença da administração Obama para com as consequências da crise entre os trabalhadores e a população laboriosa, mas também devido a uma reforma que, em 1996, sob a presidência de Bill Clinton, Democratas e Repúblicanos aprovaram impondo cortes e limites severos nas prestações sociais e extinguindo a universalidade da assistência social, em vigor desde a década de 30. O argumento foi a «necessidade» de pôr fim ao circulo vicioso da «dependência dos subsídios estatais».
No total, 36 milhões de pessoas - um em cada oito adultos e uma em cada quatro crianças – estão ao abrigo do programa de senhas de alimentação. Em 800 condados norte-americanos, pelo menos um terço das crianças são alimentadas com bilhetes de racionamento.
No final do ano passado, um estudo da Universidade Washington de St. Louis revelou que metade das crianças norte-americanas e 90 por cento das crianças afro-americanas recebiam, em algum momento da sua vida, títulos para a aquisição de géneros alimentares antes de cumprirem 20 anos.
Dados oficiais indicam ainda que o número dos que requerem esta ajuda cresce actualmente ao ritmo de 20 mil pessoas por dia, mas as mesmas entidades estimam que apenas dois terços dos que deveriam receber auxílio acabam por aceder-lhe.
Acresce que milhares de famílias sobrevivem em tendas de campanha, cenário que contrasta com a abundância obscena de fundos públicos canalizados pelo governo liderado por Barack Obama para engordar os lucros que o grande capital está a amealhar com a crise e as guerras imperialistas além fronteiras.
Falências em catadupa
Para ilustrar a emergência social que enfrentam milhões de norte-americanos concorrem, também, as estatísticas que traduzem em 32 por cento o aumento do número de famílias e empresas que declararam falência durante o ano passado. No total foram mais de 1,4 milhões de pedidos entregues junto dos organismos públicos, entre os quais mais de 140 instituições de crédito.
No Arizona, o aumento das bancarrotas foi de 77 por cento, enquanto que nos estados da Califórnia, Wyoming e Nevada foi de 50 por cento.
O ano que agora entra não parece promissor. Logo nos primeiros dias de 2010 o El Horizon Bank, do estado de Washington, anunciou a bancarrota devido à incapacidade de suportar os prejuízos, muitos dos quais acumulados devido à enorme quantidade de famílias que deixou de poder pagar os respectivos créditos imobiliários.
Quem parece poder ficar a ganhar é uma das instituições bancárias locais concorrentes que, na lógica do sistema, se prepara para absorver os activos da empresa mais débil.
Obama próximo de Reagan
Se a taxa de aprovação de Barack Obama rondava os 68 por cento nos primeiros dias da entrada em funções da nova administração Democrata, quase a cumprir um ano de mandato o presidente dos EUA recolhe agora a aprovação de apenas metade dos inquiridos pela Gallup.
A mesma sondagem, realizada entre 2 e 4 de Janeiro, revela igualmente que 44 por cento dos norte-americanos desaprova o desempenho político do ex-senador do Illinois.
De acordo com a Gallup, somente o presidente Ronald Reagen iniciou o segundo ano de mandato com uma taxa de aprovação mais baixa, 49 por cento, embora o total dos que desaprovavam a sua gestão fosse menor, apenas 40 por cento contra os 44 por cento que já desaprovam a gestão Obama.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32053&area=11
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
Sem comentários:
Enviar um comentário