Anabela Fino
Portugal tem o pior desempenho económico, quer da zona euro quer da União Europeia a 27, desde o princípio do novo século. A afirmação é de João Salgueiro, ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos, que esta semana foi a Belém manifestar ao Presidente da República a sua «preocupação face ao futuro».
A patriótica «preocupação» do senhor Salgueiro – que entre outras coisas também já foi, lembre-se, técnico do Banco de Fomento, director do Departamento Central de Planeamento, vice-governador do Banco de Portugal, presidente do Banco de Fomento, presidente da Caixa Geral de Depósitos, subsecretário de Estado do Planeamento (entre 1969 e 1971), ministro de Estado e das Finanças e do Plano (de 1981 a 1983), para além de ser um dos fundadores da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (ufff!!!) – vem na altura certa e em nada destoa das preocupações de outras figuras ilustres da nossa praça, como seja Vítor Constâncio, por exemplo, que entre os seus múltiplos afazeres no Banco de Portugal e a sua corrida à vice-presidência do Banco Central Europeu encontra sempre tempo para vir dizer ao «povo» que é preciso apertar o cinto.
Para além das preocupações que gostam de partilhar connosco, estes senhores – aqui citados meramente a título de exemplo, que o rol é longo – têm em comum outra coisa a que certamente por esquecimento nunca fazem referência: a responsabilidade no estado a que o País chegou. Entra um, sai outro, voltam a entrar e voltam a sair e não só o discurso é sempre o mesmo como os resultados são sempre idênticos, variando quanto muito na intensidade das consequências, dependendo da conjuntura. Modernização, crescimento económico, combate ao défice, saneamento das contas públicas... são chavões que têm como objectivo impor «mais do mesmo», ou seja, retirar direitos, cortar nas despesas públicas, degradar salários, agravar as condições de vida. Cumprida a missão retiram-se, com o futuro bem assegurado, com muitas «preocupações» mas sem pesos na consciência.
Têm também em comum o hábito de reaparecerem na ribalta no momento oportuno, por exemplo em vésperas da apresentação do Orçamento do Estado. Os senhores salgueiros de serviço agradecem. É para isso que servem os amigos.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32094&area=25
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
14/01/2010
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