A fábrica Rohde pode encerrar hoje, segunda-feira, as portas, mas os cerca de 1000 operários daquela que é a maior empregadora nacional da indústria do calçado entraram ao serviço preparados para um dia de trabalho normal.
Após três semanas de férias, os 984 trabalhadores regressam hoje à fábrica de calçado de Santa Maria da Feira trazendo os sacos com a refeição do almoço e algo mais para o lanche, mas, ainda assim, dizem-se "preparados para o pior".
"Durante as férias, eles não devem ter recebido encomendas nenhumas, portanto não estamos a contar com boas notícias", disseram funcionárias do sector da costura.
As funcionárias do departamento de embalagem têm a mesma opinião: "Isto vai depender tudo da empresa-mãe, na Alemanha. Quase todas as nossas encomendas são encaminhadas para lá, portanto, se eles não puserem ordem na casa, nós aqui não temos hipótese".
Antero Resende, candidato da CDU à Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, acompanhou a entrada do pessoal da Rohde e manifestou-se preocupado com "movimentações estranhas na empresa, durante as férias".
Nenhum funcionário da fábrica as quis comentar, mas Antero Resende referiu que lhe foi comunicado que houve "movimentação de máquinas" e considerou "estranho que os trabalhadores tenham sido convocados, por carta, para comparecer todos à mesma hora, quando o habitual é fazerem turnos".
Fernanda Moreira, do Sindicato dos Operários da Indústria do Calçado, Malas e Afins dos Distritos de Aveiro e Coimbra, disse que recebeu as mesmas informações, mas garantiu que são erradas.
"Fui confirmar e é mentira. As seis ou sete pessoas do turno que começa às seis da manhã vieram trabalhar realmente às seis e não saiu máquina nenhuma da fábrica", disse.
Para Antero Resende, o eventual fecho da Rohde não se deve tanto à falta de encomendas, mas sobretudo a "conveniências" relacionadas com "o desvio da produção para outros países".
"A crise está a servir mais uma vez de pretexto para se dar o golpe final", afirmou o candidato às autárquicas de Santa Maria da Feira.
Miguel Viegas, que também é cabeça-de-lista da CDU mas nas eleições legislativas, pelo círculo de Aveiro, acrescentou que a situação da Rohde é agravada por dois factores: "Já esteve muitas vezes em 'lay-off' e ainda há pouco tempo recorreu a fundos estruturais para ir buscar dinheiro ao Estado".
Fernanda Moreira não rejeitou a hipótese de a empresa recorrer a uma nova redução do período laboral, referindo que "a administração pode requerer quantos 'lay-off' quiser porque depois é a Segurança Social a decidir se o permite ou não".
O que não motiva dúvidas para aquela dirigente sindical é a situação "muito complicada" em que ficarão os funcionários da Rohde caso a empresa decida encerrar: "São quase mil pessoas que ficam sem trabalho e, aqui no concelho, não há oferta de emprego nenhuma".
Fernanda Moreira referiu ainda que, para esses eventuais desempregados, as possibilidades de uma nova colocação serão dificultadas pela sua média de idades, que se situa entre os 45 e os 50 anos, e também pela sua baixa escolaridade.
"Algumas pessoas conseguiram há pouco tempo o RVCC [diploma de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências]", observou a sindicalista, "mas a maioria vai ficar numa situação muito difícil, porque estas pessoas trabalham há 30 ou 40 anos no calçado e não sabem fazer outra coisa".
A decisão quanto ao futuro da Rohde ainda não foi comunicada aos funcionários da fábrica, o que deverá acontecer hoje, numa reunião ainda sem horário definido.
A Lusa contactou a administração da Rohde, que não prestou declarações sobre a situação que hoje se vive na empresa.
J.N. - 07.09.09
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