Anabela Fino
O escandaloso silêncio imposto pelos meios de comunicação dominantes ao que está a acontecer nas Honduras só tem paralelo na vergonhosa campanha de desinformação a que alguns serventuários do imperialismo se prestam, aquém e além fronteiras, para tentar justificar o injustificável: o derrube de um presidente democraticamente eleito e a sua substituição por um punhado de oportunistas ao serviço dos interesses do capital.
Desde 28 de Junho – data em que os militares tiraram o presidente Zelaya da cama e o levaram de pijama para fora do país, acto tão humilhante quanto revelador do receio da força da sua presença – que o povo hondurenho está na rua a exigir a reposição da ordem constitucional.
As manifestações sucedem-se todos os dias apesar da repressão militar e policial; os órgãos de comunicação social que não afinam pelo diapasão do «novo» poder foram silenciados; há mortos e feridos não contabilizados; milhares de pessoas percorrem a pé as estradas do país numa Marcha Nacional de Resistência Popular; partidos de todos os quadrantes manifestam o seu repúdio pelo golpe militar; organizações profissionais e sindicais decretaram greve por tempo indeterminado nos sectores público e privado; organizações internacionais são proibidas de entrar no país... e nada disto é notícia, nada disto merece destaque, nada disto é tema de reportagem de enviados especiais. No pasa nada!
É certo que houve condenação internacional, mas exceptuando os países da região e uma ou outra excepção, o facto é que tudo se ficou por meras declarações de princípio, cada vez mais tímidas e dúbias.
Há um povo na rua a lutar contra um golpe militar e pela ordem democrática e isso não é notícia. O que vai aparecendo é a «análise da coisa» fazendo o caminho para impor a ideia de que «não se deve condenar o golpe» porque os golpistas só o fizeram para «repor a legalidade». O motivo aduzido: Zelaya queria consultar o povo num referendo não vinculativo. É demasiado escasso como argumento? Não seja por isso; os «especialistas» já «descobriram» documentos a «atestar ligações perigosas» de Zelaya, que ninguém testou mas que merecem acolhimento nos jornais ditos de referência e são prontamente repetidos à escala global pelos que se prestam ao serviço de ser a voz do dono.
Nada disto é novo, embora alguns ingénuos tenham acreditado que o tempo da guerra suja tinha acabado. O que se passa nas Honduras e a teia que há muito vem sendo tecida em torno da Venezuela, Bolívia, Equador, tendo como pano de fundo a bem alinhada Colômbia, faz lembrar o que aconteceu no Chile já lá vão mais de três décadas. «Vocês pediram-nos para provocar o caos no Chile (....) nós fornecemos uma fórmula para o caos, o qual é improvável que ocorra sem derramamento de sangue. Dissimular o envolvimento dos Estados Unidos será claramente impossível.» As palavras são de Henry Heckscher, chefe do departamento da CIA em Santiago, em 10 de Outubro de 1970. Depois foi o que se viu.
Os cães de guarda do imperialismo, para melhor iludir os incautos, enterram o passado. E não se limitam a ladrar, matam. Para ter direito a lamber as mãos do dono.
Avante - 13.08.09
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
17/08/2009
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