O crédito não está a fluir. De facto, o crédito está a contrair. Isto significa que as coisas não estão a ficar melhor, elas estão a ficar pior. Quando o crédito se contrai numa economia guiada pelo consumidor, coisas más acontecem. O investimento em negócios cai, o desemprego eleva-se, as receitas afundam e o PIB encolhe. O Fed gastou mais de um milhão de milhões (trillion) de dólares a tentar fazer com que consumidores começassem a tomar empréstimos outra vez, mas sem êxito. Os motores do crédito do país estão a ranger para uma paragem.
Bernanke aumentou as reservas no sistema bancário em US$800 mil milhões, mas a concessão de empréstimos ainda é lenta. Os bancos estão a entesourar capital a fim de tratar as perdas dos activos tóxicos, empréstimos não cumpridos, e de uma bolha no imobiliário comercial de US$3,5 milhões de milhões que se segue à habitacional. Eis porque a taxa de falências bancárias está a acelerar. 2010 será ainda pior; a lista está a crescer. É um banho de sangue.
Os padrões para empréstimos convencionais têm-se tornado mais apertados ao passo que o conjunto de tomadores de empréstimos aptos em termos de qualidade de crédito se contraiu. Isto significa menos crédito a fluir para dentro do sistema. O sistema bancário sombra foi amarrado pelo congelamento na titularização e apenas proporciona uma porção insignificante do crédito necessário para fazer crescer a economia. As iniciativas de Bernanke não fizeram a mínima diferença. O crédito continua a murchar.
O índice S&P 500 está 50 mais alto em relação à sua alta de Março. As financeiras, o retalho, os materiais e industriais estão a conduzir o pacote. É uma corrida ao Bear market dos "Rebentos verdes" alimentada pela Facilidade Quantitativa (Quantitative Easing, QE) do Fed a qual está a forçar liquidez para dentro do sistema financeiro e a levantar as acções. A mesma coisa aconteceu durante a Grande Depressão. As acções subiram após 1929. Então a tendência prevalecente ganhou domínio e arrastou o Dow 89 pontos para baixo em relação às suas alturas anteriores. A baixa de Março do S&P será testada antes de a recessão estar ultrapassada. A desalavancagem do sistema amplo está em andamento. Isso não mudará.
Ninguém é enganado pelos fogos de artifício na Wall Street. A confiança do consumidor continua a afundar. Toda a gente sabe que as coisas estão más. Toda a gente sabe que o media estão a mentir. O crédito está a contrair; o sangue vital da economia reduziu-se a um pingar. A economia está a dirigir-se para uma aterragem forçada.
Bernake abandonou todos os sinais de stop. Ele reduziu as taxas de juro a zero, protegeu todo o sistema financeiro com US$12 milhões de milhões (trillion), escorou instituições financeiras insolventes e monetizou US$1 milhão de milhões em títulos apoiados por hipotecas e dívida soberana dos EUA. Nada funcionou. Os salários estão a cair, os bancos estão a cortar linhas de crédito, poupanças para aposentadores foram cortadas pela metade e as perdas com a situação líquida das casas continuam a subir. Os padrões de vida não podem mais ser remendados com cartões VISA ou Diners Club. Os gastos das famílias têm de ajustar-se aos salários de cada uma. Eis porque o comércio a retalho, as viagens, a melhoria dos lares, os ítens de luxo e os hotéis estão todos dois dígitos abaixo. O dinheiro fácil secou.
Segundo a Bloomberg:
"A contracção de empréstimos pelos consumidores dos EUA caiu em Junho pelo quinto mês seguido pois a taxa de desemprego aumentou, obter empréstimos ficou difícil e as famílias adiam grandes compras. O crédito ao consumidor caiu de US$10,3 mil milhões, ou 4,92 por cento a uma taxa anual, para US$2,5 milhões de milhões, segundo um relatório do Federal Reserve divulgado hoje em Washington. O crédito caiu em US$5,38 mil milhões em Maio, mais do que o anteriormente estimado. As séries de declínios são as mais longas desde 1991.
Uma taxa de desemprego próxima do máximo de 26 anos, salários estagnados e valores das casas em queda significa que os gastos do consumidor... levarão tempo para recuperar mesmo quando a recessão se amenize. Os rendimentos caíram os máximo de quatro anos em Junho quando a transferência pagamentos única do plano de estímulo da administração Obama secou e prevê-se que o desemprego exceda os 10 por cento no próximo ano antes de recuar" (Bloomberg).
Que grande desordem. O Fed assumiu poderes quase ditatoriais para combater um monstro que ele próprio fabricou, e nada conseguiu. A economia real está morta na água. Bernanke não está a obter qualquer andamento com as taxas de juro a zero por cento. O seu programa de monetização (QE) está apenas a amedrontar credores estrangeiros. Na sexta-feira o Marketwatch relativa:
"O Federal Reserve provavelmente permitirá que o seu programa de US$300 mil milhões de compra de títulos do Tesouro finalize ao longo das próximas seis semanas quando sinais de uma recuperação da habitação levarem o banco central a desembaraçar-se de uma das suas intervenções mais agressivas e inabituais no mercados financeiros, dizem grandes correctores de títulos".
Certo. Mas será que alguém acredita que o mercado habitacional está a recuperar-se? Caso acredite, por favor verifique este gráfico e mantenha em mente que nos primeiros seis meses de 2009 já houve 1,9 milhão de arrestos.
O Fed está a abandonar as impressoras (presumivelmente) porque a China disse a Geithner para travar a impressão de dinheiro ou do contrário eles venderiam os seus Títulos do Tesouro dos EUA. É um chamado a Bernanke para acordar e de que o poder está a mudar de Washington para Pequim.
Isto coloca Bernanke em apuros. Se ele parar de imprimir, as taxas de juro dispararão, as acções entrarão em crash e os preços da habitação tombarão. Mas se ele continuar o QE, a China despejará os seus Títulos do Tesouro e a moeda verde desvanecer-se-á subitamente em fumo. Em qualquer dos casos, o mal-estar nos mercados do crédito persistirá e o consumo pessoal continuará a explodir.
O problema básico é que os consumidores estão enterrados numa montanha de dívida e não têm qualquer opção excepto restringir os seus gastos e começar a poupar. Actualmente, o rácio da dívida em relação ao rendimento pessoal disponível é de 128%, apenas um pouco abaixo do seu máximo de todos os temos de 133% em 2007. De acordo com a "Economic Letter: US Household Deleveraging and Future Consumption Growth" do Federal Reserve Bank de San Francisco:
"A combinação de dívida mais alta e poupança mais baixa permitiu que despesas de consumo pessoal crescessem mais rapidamente do que o rendimento disponível, proporcionando uma aceleração significativa ao crescimento económico estado-unidense ao longo do período. No longo prazo, contudo, o consumo não pode crescer mais depressa do que o rendimento porque há um limite superior para quanta dívida as famílias podem servir, com base nos seus rendimentos. Para muitas famílias dos EUA, os níveis de dívida actuais parecem demasiado altos, como se evidencia pela ascensão aguda dos incumprimentos e arrestos nos últimos anos. Para atingir um nível sustentável de dívida em relação ao rendimento, as famílias podem precisar sofrer um período prolongado de desalavancamento, através do qual a dívida é reduzida e a poupança aumentada.
Avançando mais, parece provável que muitas famílias nos EUA reduzirão a sua dívida. Se isto for cumprido através do aumento da poupança, o processo de desalanvacamento poderia resultar numa baixa substancial e prolongada nos gastos do consumidor em relação às taxas de crescimento anteriores à recessão". ("U.S. Household Deleveraging and Future Consumption Growth, por Reuven Glick e Kevin J. Lansing, FRBSF Economic Letter")
Um leitura cuidadosa da Economic Letter do FRBSF mostra porque a economia não saltará outra vez. É matematicamente impossível. Nós atingimos o pico do crédito; os consumidores têm de desalavancar e remendar o seu balanço. A riqueza familiar decaiu em US$14 milhões de milhões desde que a crise começou. A situação líquida das casas caiu para 41% (uma nova baixa) e o desemprego está a subir. Em 2011, o Deutsche Bank AG prevê que 48 por cento de todos os proprietários de casas com uma hipoteca estarão submersos. Quando a posição da situação líquida dos proprietários deteriora-se, os bancos mais uma vez endurecerão o crédito e os arrestos multiplicar-se-ão.
A direcção executiva do FMI não partilha a visão rósea da Wall Street quanto ao futuro, pelo que emitiu um memorando que declarava:
"Directores observaram que a crise terá importantes implicações para o papel dos Estados Unidos na economia global. É improvável que o consumidor dos EUA venha a desempenhar o papel global de "comprador de último recurso" — outras região precisarão desempenhar um papel acrescido no suporte ao crescimento global".
Os Estados Unidos não serão o território acima da água a funcionar como centro da procura global a seguir a recessão. Aqueles dias estão ultrapassados. O mundo está a mudar e o papel dos EUA está a ficar mais pequeno. Quando mercados dos EUA se tornarem menos atraentes para exportadores estrangeiros, o dólar perderá a sua posição como a divisa de reserva do mundo. Quando o dólar se for, ir-se-á o império. Se quiser um conselho, aprenda mandarim.
EMPREGO DESPEDAÇADO: UMA RECUPERAÇÃO "SEM EMPREGOS"
Os números do emprego de Julho foram melhor do que o esperado (247 mil negativos) reduzindo o desemprego total de 9,5% para 9,4%. Isso é bom. As coisas estão a ficar pior a um ritmo mais lento. O que é notável acerca do relatório do Bureau of Labor Statistics (BLS) é que não há surto de empregos em qualquer sector da economia. Nem sinais de vida. O outsourcing e o offshoring estão em andamento e o downsizing é o novo caminho para a lucratividade. Por toda a parte os negócios estão a antecipar procura mais fraca. O relatório dos empregos é um evento isolado; uma acalmia na tempestade antes de os despedimentos recomeçarem.
O desemprego está a elevar-se, os salários estão a cair e o crédito está a contrair. Por outras palavras, o sistema está a funcionar exactamente como foi concebido. Todo o dinheiro está a fluir para cima, para os gangsters no topo. Aqui está um excerto de um artigo de Monkerud que resume tudo isto:
"Durante os oito anos da administração Bush, os 400 americanos mais ricos, os quais agora possuem mais do que os 150 milhões de americanos da base, aumentaram o seu valor líquido em US$700 mil milhões. Em 2005, os um por cento do topo tinham direito a 22 por cento do rendimento nacional, ao passo que os dez por cento do topo ficavam com a metade do rendimento total, a maior fatia de 1928.
Mais de 40 por cento do PNB vem das companhias da Fortune 500. Segundo o World Institute for Development Economics Research, os 500 maiores conglomerados nos EUA "controlam mais de dois terços dos recursos de negócios, empregam dois terços dos trabalhadores industriais, representam 60 por cento das vendas e arrecadam mais de 70 por cento dos lucros".
... Em 1955, os registos do Internal Revenue Service (IRS) indicavam que as 400 pessoas mais ricas do país eram avaliadas a uma média de US$12,6 milhões, corrigido da inflação. Em 2006, as 400 mais ricas aumentaram a sua média para US$263 milhões, representando uma monumental mudança de riqueza para cima nos EUA". "Wealth Inequality destroys US Ideals" .
O povo trabalhador não está a ser esmagado por acidente, mas sim de acordo com um plano. Este é o caminho pelo qual o sistema é suposto funcionar. Bernanke sabe que procura sustentada exige salários mais altos e uma classe média vital. Mas o que lhe importa. Ele não é um servidor público. Ele trabalha para os bancos. Eis porque as políticas monetárias do Fed reflectem os objectivos da classe investidora. A economia da bolha (bubblenomics) não é o caminho para uma economia forte/sustentável, mas sim uma ferramenta efectiva para comutar riqueza de uma classe para outra. A tarefa do Fed é facilitar tal objectivo, razão porque a economia está a dirigir-se para as rochas.
O livre mercado é uma impostura para esconder os crimes dos ricos. Ler Taibbi . Ler Marx. O Karl, não o Groucho.
O colapso financeiro é a resultante lógica das políticas monetárias do Fed. Essa é a razão porque é um erro chamar o actual desabamento de "recessão". Não é. É uma demolição planeada.
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