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24/07/2009

“Embranquecimento” das posições superiores da hierarquia social no Brasil

Estudo “Status, Cor e Desigualdades Socioespaciais nos Grandes Espaços Urbanos Brasileiros”, levado a cabo pelo Observatório das Metrópoles, debruça-se sobre a relação entre segregação espacial e étnica na produção e reprodução das desigualdades de condições de vida e oportunidades, nas grandes metrópoles brasileiras.

Mais de 50,0% do total da população de Belo Horizonte, Recife, Campinas, Fortaleza, Natal, Brasília, Vitória, Rio de Janeiro, Maringá e Manaus que declara ser “preta” vivia em 2000 em territórios marcados pela baixa escolaridade dos seus habitantes, distribuição não muito diferente da apresentada pela população mestiça (“parda”, como é denominada no estudo). Nos territórios onde o “clima educativo do domicílio” (p.21) é baixo ou médio, as condições de bem-estar habitacional e as oportunidades de mobilidade tendem a ser inferiores às verificadas nos espaços urbanos caracterizados pela alta escolarização da sua população. Pelo facto de o peso relativo da população negra e mestiça ser predominante nos espaços urbanos menos escolarizados (de baixo ou médio “contexto social”), o acesso a este tipo de recursos e as possibilidades de mobilidade são menores do que entre a população branca.
Por outro lado, segundo o estudo, a variação das condições de habitabilidade e das possibilidades de mobilidade nos três tipos de contextos residenciais definidos é, entre a população negra, menor do que no caso dos inquiridos que se auto-intitulam “brancos”. De facto, os brancos que vivem em áreas de “contexto social alto” (isto é, em zonas em que a média de anos de estudo dos indivíduos maiores de 24 anos é elevada) apresentam para estes indicadores resultados que se destacam do verificado entre os brancos que vivem em contextos sociais médios e baixos, hiato que se apresenta menos volumoso entre a população negra e mestiça.

“Existe uma maior desigualdade relativa em termos de bem-estar urbano entre os brancos residentes nos contextos sociais classificados como baixo e médio em relação ao contexto social alto, do que entre os pretos. Esse resultado demonstra a complexidade da questão das desigualdades raciais sob a ótica da segregação residencial segundo a qual existe uma proximidade social entre brancos e pretos em termos de compartilhamento dos níveis precários de bem-estar urbano nas áreas de contexto social baixo, enquanto que nas áreas de contexto social alto o distanciamento social entre pretos e brancos é nítido quando consideramos o compartilhamento de níveis de bem-estar urbano. Podemos falar, portanto, de um “embranquecimento” das posições superiores da hierarquia socioespacial” (pp.66-67).

Link para estudo

Observatório das Desigualdades - 23.07.09

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