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21/07/2009

Concessão de crédito às famílias cai pelo 10º mês consecutivo

Famílias e empresas enfrentam cada vez mais dificuldade em conseguir pagar os seus empréstimos. O crédito mal parado continua a crescer, atingindo o nível mais elevado de sempre no financiamento para a habitação e o consumo, segundo os dados hoje divulgados pelo Banco de Portugal no Boletim Estatístico.

O actual contexto económico está a provocar um aumento generalizado do desemprego, um factor que muito contribui para a dificuldade das famílias em conseguirem pagar os empréstimos. Assim como as empresas, cujas vendas têm sido afectadas pelas quebras no consumo e nas exportações.

Prova deste cenário são os dados disponibilizados pelo Banco de Portugal. O crédito mal parado nas famílias atingiu, em Maio, os 2,58%, o que corresponde ao valor mais elevado desde Fevereirode1999.

Ou seja, os bancos têm em carteira 3,45 mil milhões de euros por receber dos consumidores, dos quais 1,76 mil milhões correspondem a mal parado na habitação. Uma evolução justificada quer pelo aumento dos incobráveis no segmento da habitação quer no consumo.

Neste último, o peso do mal parado superou os 6% pela primeira vez desde 1998 e encontra-se no nível mais elevado desde que o Banco de Portugal começou a compilar os dados.

Já no crédito à habitação, o nível do mal parado fixou-se nos 1,67%. Apesar de não parecer um nível muito elevado, a verdade é que nunca se tinha assistido a um valor tão alto em Portugal.

Os números têm vindo a deteriorar-se, e “é normal que assim continue”, afirmou ao Negócios a economista do BPI, Lara Wemans. A responsável realça que, ainda assim, “Portugal continua a comparar bem com os principais países da Zona Euro”, uma vez que a deterioração destes números está a ser transversal aos países.

Concessão de crédito às famílias cai pelo 10º mês consecutivo

Com o aumento do mal parado e do desemprego, a concessão de crédito tem vindo a abrandar. Os montantes concedidos para novas operações estão longe dos volumes concedidos durante2007e 2008.

A taxa de variação anual dos empréstimos concedidos às famílias caiu, em Maio, pelo décimo mês consecutivo, algo que nunca se verificou, desde que o Banco de Portugal começou a compilar estes dados (Dezembrode2001). Nos empréstimos para a aquisição de habitação, a taxa de variação anual foi de 1,8%, em Maio, enquanto no consumo foi de 4,3%.

Lara Wemans realça que, nesta altura, há dois factores a penalizarem a concessão de novos empréstimos. Por um lado, há uma procura menor, com as famílias a adiarem situações de maior endividamento.

Por outro, há uma oferta menor, com as instituições atentarem proteger-se do risco, que hoje é maior. A economista acredita que as taxas de crescimento do crédito “deverão manter-se nos actuais níveis, entre 1,5% e 2%”.

Malparado nas empresas continua a aumentar

Mas não são só as famílias que estão a ter dificuldades em superar a crise e económica. Aliás, será normal que enquanto os consumidores não estabilizarem as empresas não

“ressuscitem”. Em termos de concessão de crédito, a taxa de variação anual até recuperou um pouco, em Maio, mas os novos empréstimos concedidos continuaram a diminuir.

A economista do BPI acredita que “a partir de agora não haverá travagens tão bruscas” na concessão de crédito como até aqui.

No que toca ao crédito mal parado, o cenário parece não melhorar. No total, o peso do malparado nas empresas atingiu, em Maio, os 3,48% dos empréstimos concedidos, o que corresponde ao valor mais alto desde Novembro de 1999.

Entre os sectores mais afectados pela actual crise está a construção e o imobiliário, com o malparado a atingir níveis de Setembro de 1998 e Outubro do mesmo ano, respectivamente.
J. Negócios - 21.07.09

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