Filipe Diniz
1 - Antes e no decurso da guerra de ocupação do Iraque a UNESCO forneceu às forças militares dos EUA informação e mapas indicando lugares históricos. Foram úteis: no sítio arqueológico da milenar Babilónia foi instalada, entre 2003 e 2004, uma base militar das tropas ocupantes (primeiro dos EUA, depois da Polónia). Terrenos foram nivelados, compactados, tratados com produtos químicos. A Porta de Ishtar (ela própria já uma cópia, porque a original, rapinada no séc. XIX, encontra-se em Berlim) e o caminho processional foram seriamente danificados pelo trânsito de veículos pesados, tanques e helicópteros (Público, 12.07.09).
Logo no início da ocupação norte-americana, em 2003, o Museu de Bagdad foi saqueado. Mais de 8 000 peças foram roubadas, entre as quais artefactos com 7 000 anos de idade. Algumas das obras roubadas encontram-se agora em museus norte-americanos.
Não é que o Departamento de Defesa dos EUA não tivesse tomado medidas. Em 2007, quatro anos depois de desencadeada a ocupação, distribuiu às tropas baralhos de cartas didácticas «para preservar a história». O 7 de paus é ilustrado com uma imagem da arquitectura Sassânida, com a legenda: «este lugar sobreviveu 17 séculos. Irá sobreviver-te?», o 5 de paus diz: «passa à volta, não por cima dos locais arqueológicos». É certo que o Departamento de Defesa não se esqueceu de advertir que «o inimigo utiliza esses lugares históricos em seu proveito», nomeadamente como locais privilegiados para disparar….
Este baralho é bem a imagem da boçalidade com que a agressão e a ocupação imperialista avançam no Médio Oriente, também sobre o saque e a fria liquidação de um passado histórico-cultural património de toda a humanidade.
2 - José Sócrates reuniu-se com «artistas e agentes culturais». Diz um jornalista (Público, 12.07.09) que «reconheceu ter sido um erro não ter investido mais nessa área no seu primeiro mandato».
A frase contém dois erros. Um é que o problema não é ter investido pouco na Cultura. É ter investido ainda menos que o anterior governo PSD-PP, e ter devastado o sector com o PRACE, com políticas de direita e ministros incompetentes, com o desastre na educação. Outro, é que não é o primeiro mandato, é provavelmente o único.
Avante - 16.07.09
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
16/07/2009
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