Fala-se agora muito da Divida Externa Portuguesa. O Presidente da Republica manifesta periodicamente a sua preocupação com o crescimento insustentável da divida externa levando a pensar que o problema é recente. Manuela Ferreira Leite quer parar mesmo os investimentos públicos utilizando, como justificação, a elevada divida externa do País.
No entanto, aqueles que só agora mostram tanta preocupação pelo endividamento do País, durante muitos anos ignoraram essa divida, embora ela já estivesse a aumentar a um ritmo muito elevado. Mesmo alguns representantes do pensamento económico neoliberal dominante apresentavam-na como um indicador do desenvolvimento do País porque, segundo eles, estaria associado a mais investimento. Sócrates e os seus ministros da Economia e das Finanças ignoraram -na sempre. Mesmo agora recusam-se a falar dela e das consequências que ela vai ter para o desenvolvimento futuro do País e para as condições de vida dos portugueses. Mas todos procuram ocultar algumas das verdadeiras causas do crescimento da divida externa em Portugal.
esse crescimento se deve também ao controlo crescente de sectores importantes da economia nacional pelo capital estrangeiro, facto esse que todos procuram esconder.
EM 4 ANOS E 4 MESES
Como revela o quadro seguinte, construído com dados do Boletim Estatístico
QUADRO I – Crescimento da Divida Externa Liquida de Portugal durante o
PERIODO | PIB Milhões euros | DIVIDA LIQUIDA EXTERNA DE PORTUGAL Milhões euros | DIVIDA EXTERNA LIQUIDA % DO PIB |
2004 | 144.128 | 92.205,3 | 64,0% |
2005 | 149.123 | 104.681,4 | 70,2% |
2006 | 155.446 | 125.833,5 | 80,9% |
2007 | 163.190 | 148.974,4 | 91,3% |
2008 | 166.197 | 161.531,1 | 97,2% |
2009 (*) | 163.736 | 164.689,1 | 100,6% |
2009-2004 | 19.608 | 72.484 | |
Variação em %:2009/06 | 13,6% | 78,6% | 57,2% |
(*) Divida Externa Liquida em Março de 2009 segundo o Banco de Portugal; PIB : previsão para 2009 do Eurostat | |||
FONTE: 2004-2008. Boletim Estatístico - Junho de 2009 - Banco de Portugal |
Entre 2004 e 2009, o valor do PIB de Portugal cresceu, em valores nominais, ou seja, sem entrar com o efeito da subida de preços, 13,6%, enquanto a divida externa liquida portuguesa aumentou 78,6%. Em milhões de euros, o PIB cresceu 19.608 milhões €, enquanto a divida aumentou 72.484 milhões de euros, ou seja, 3,7 vezes mais. Como consequência, entre 2004 e
MAS O PROBLEMA DA DIVIDA EXTERNA É AINDA MAIS GRAVE, POIS FALA-SE SEMPRE DA DIVIDA LIQUIDA E NÃO DA DIVIDA TOTAL BRUTA QUE É MUITO MAIS ELEVADA
Os dados anteriores sobre a divida, que são aqueles habitualmente referidos e normalmente divulgados pelos media, enganam porque não correspondem à totalidade da divida do País. Aqueles dados referem-se apenas à Divida Liquida Externa, que se obtém deduzindo à Divida Externa Bruta, ou seja, a totalidade daquilo que o País efectivamente deve ao estrangeiro (o chamado PASSIVO do País) aquilo que ele tem a haver do estrangeiro (o chamado Activo). No entanto, o que o País efectivamente deve ao estrangeiro é a divida externa bruta, e é ela que tem de ser paga, e é sobre ela que se tem e pagar juros e dividendos. O quadro seguinte, construído também com dados divulgados pelo Banco de Portugal, mostra com clareza a dimensão dessa divida total efectiva.
QUADRO II – Valor da divida bruta total efectiva de Portugal
PERIODO | DIVIDA BRUTA EXTERNA DE PORTUGAL OU PASSIVO (Total que o País deve ao estrangeiro) Milhões € | DIVIDA LIQUIDA EXTERNA DE PORTUGAL (Passivo-Activo) Milhões € | Nº de vezes que a Divida Externa Bruta é superior à Divida Externa Liquida |
2006 | 402.857,4 | 125.833,5 | 3,2 |
2007 | 444.137,7 | 148.974,4 | 3,0 |
2008 | 444.117,9 | 161.531,1 | 2,7 |
2009 (só até Março) | 451.520,4 | 164.689,1 | 2,7 |
Aumento % 2006-2009 | 12,1% | 30,9% | |
FONTE: Boletim Estatístico – Junho de 2009 – Banco de Portugal |
Em
A DIVIDA EXTERNA TEM CRESCIDO MUITO
Um facto que tem sido sistematicamente ocultado por todos aqueles que só agora manifestam preocupação pela elevada divida externa assim como pelos defensores do pensamento económico neoliberal dominante é que o crescimento da divida externa portuguesa deve-se também ao elevado controlo da economia nacional pelo capital estrangeiro. O quadro seguinte, construído com dados divulgados pelo Banco de Portugal, prova precisamente isso.
QUADRO III – Rendimentos transferidos para o estrangeiro no período 2006 -2009
ANO | Tendo como origem Investimentos directos em Portugal | Tendo como origem Investimentos de carteira em Portugal | Tendo como origem outros investimento sem Portugal | TOTAL |
Milhões de euros | ||||
2006 | 4.941,7 | 5.559,1 | 6.250,3 | 16.751,1 |
2007 | 4.607,6 | 6.391,4 | 8.163,1 | 19.162,2 |
2008 | 3.926,6 | 7.548,6 | 8.262,4 | 19.737,7 |
2009 (Até Abril) | 1.297,0 | 2.697,9 | 1.330,8 | 5.325,6 |
2009 (Estimativa) (*) | 3.890,9 | 8.093,6 | 3.992,4 | 15.976,9 |
SOMA (2006-09) | 17.366,9 | 27.592,8 | 26.668,3 | 71.627,9 |
FONTE: Boletim Estatístico - Junho de 2009 - Banco de Portugal; (*) A Estimativa para 2009 tem como base o verificado nos 4 primeiros meses de 2009 |
Entre 2006 e Março de 2009, foram transferidos para o estrangeiro rendimentos no valor de 71.627,9 milhões tendo a seguinte origem: 17.366,9 milhões de euros rendimentos referentes a investimentos directos feitos por estrangeiros em Portugal; 27.592,8 milhões de euros relativos a aplicações em carteira de títulos, muitos deles isentos do pagamento de imposto (de acordo com o nº2 do artº 10, do Código do IRS); e 26.668,3 milhões de euros foram rendimentos transferidos para o estrangeiro tendo como origem outros investimento. Portanto, o défice da Balança Comercial (Exportações menos Importações) não é a única causa do elevado crescimento da divida externa do País, como o pensamento neoliberal dominante pretende fazer crer.
O quadro seguinte, igualmente construído com dados divulgados em Junho de 2009 pelo Banco de Portugal, também confirma o que se acabou de referir.
QUADRO IV – Lucros e dividendos gerados em Portugal transferidos para o estrangeiro
ANO | DIVIDENDOS E LUCROS TRANSFERIDOS DE PORTUGAL PARA O ESTRANGEIRO Milhões euros |
2006 | 2.593,8 |
2007 | 3.489,3 |
2008 | 2.421,9 |
2009 (Até Abril) | 604,4 |
2009 (Estimativa com base nos 4 primeiros meses de 2009) | 1.813,1 |
SOMA (2006-2009) | 10.318,1 |
FONTE: Boletim Estatístico - Junho de 2009 - Banco de Portugal |
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