As alterações climáticas arriscam-se a reduzir a nada 50 anos de luta contra a pobreza, alertou hoje a organização humanitária Oxfam, num relatório publicado a dois dias da cimeira do G8 em Itália.
“O verdadeiro custo das alterações climáticas não se mede em dólares mas em milhões de vidas”, considera a organização que apela aos países industrializados para se comprometerem imediatamente com uma redução de, pelo menos, 40 por cento das suas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2020.
O clima está em cima da mesa dos oito países mais industrializados do mundo – Estados Unidos, Canadá, Rússia, Japão, França, Alemanha, Reino Unido e Itália – na cimeira que começa quarta-feira, a cinco meses da eventual conclusão de um novo acordo mundial contra o aquecimento global, em Copenhaga.
Para elaborar o relatório “O custo humano das alterações climáticas”, a Oxfam apoiou-se nas conclusões de 2500 cientistas internacionais que se reuniram em Março na Dinamarca. Depois, cruzou estas previsões com os estudos das agências da ONU para a agricultura, refugiados e saúde e constatou que as alterações climáticas já afectam os países onde trabalha.
Os impactos das secas, inundações e fenómenos extremos que acompanham os desequilíbrios do clima serão especialmente severos na alimentação e saúde dos países do Sul, com graves repercussões a nível da segurança, prevê a Oxfam.
”Multiplicação das fomes” é a principal preocupação
Para a Oxfam, a principal preocupação é o risco de “multiplicação das fomes” porque algumas culturas de base, com o milho e o arroz, vitais para os mais pobres, são especialmente sensíveis aos aumentos de temperatura e aos extremos climáticos.
Por cada 1ºC a mais, o rendimento do arroz cairá dez por cento. O Banco Asiático para o Desenvolvimento prevê que a produção de arroz nas Filipinas possa cair entre 50 e 70 por cento até 2020.
O milho, alimento de base para mais de 250 milhões de africanos e elemento essencial da alimentação do gado no mundo, recuará 15 por cento até 2020 em grande parte da África subsaariana e Índia. A perda poderá atingir os dois mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) por ano para a África. A Oxfam lembra que no Verão de 2003, quando a Europa sofreu um aumento de temperatura fora do normal, a produção caiu 20 por cento em França e até 36 por cento em algumas regiões de Itália.
O trigo deverá beneficiar do aumento da temperatura na Europa do Norte e Canadá mas algumas regiões da Ásia poderão assistir a reduções de mais de 50 por cento até 2050, ameaçando a segurança alimentar de 200 milhões de pessoas.
A organização não esquece que as alterações climáticas fazem-se acompanhar de um aumento das doenças tropicais, transmitidas pela água e insectos.
“Se não agirmos de imediato, o aquecimento global poderá atingir os 4ºC com todas as consequências sociais e ecológicas desastrosas que isso implica”, prevê Diana Liverman, da Universidade de Oxford, na introdução do relatório.
O G8 deverá chegar a acordo para reconhecer a fronteira dos 2ºC de aumento da temperatura média do planeta, em relação aos níveis pré-industriais.
Público.pt - 06.07.09
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