São já mais de 495 000 as pessoas sem trabalho em Portugal, o que corresponde a uma taxa de 8,9%, a mais alta dos últimos 23 anos. O DN foi ao maior centro de emprego a norte, em Vila Nova de Gaia, procurar saber como estão os desempregados, em época de crise, a viver o Verão. Invariavelmente, a resposta foi sempre a mesma: "O dinheiro é curto e não chega para passar férias".
Mãe e filha esperam, pacientemente, que a sua vez chegue. Já se cansaram de estar dentro do centro de emprego, lotado, e vêm até à rua apanhar ar. Tânia Filipa tem 20 anos e procura o primeiro emprego. Tarefa difícil para quem não terminou sequer o 8.º ano de escolaridade e se recusa a fazer qualquer curso profissional. "Não quero estudar mais e nos centros só me arranjam cursos. Não quero nada disso, quero um trabalho, faço qualquer coisa", diz. A mãe, Margarida Pereira, é ajudante de cozinha numa escola e nunca teve problemas de emprego. Férias? perguntamos. "Ui, não, menina, o dinheiro é curto, não dá para isso", lamenta.
Quanto maior é a retracção do consumo, mais os centros de emprego se enchem de trabalhadores vítimas das reestruturações e curas de emagrecimento das empresas. Em época de Verão, muitas são as que fecham e nem voltam a abrir. O DN visitou o maior centro de emprego da Delegação Regional Norte do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e procurou saber como os desempregados vivem a época estival e as férias.
A resposta, numa altura em que o desemprego cresce, as alternativas de trabalho tardam em chegar e a crise parece teimar em ficar, é invariavelmente a mesma: "Ir de férias? Nem pensar!"
O Centro de Emprego de Vila Nova de Gaia tem como área de influência os municípios de Vila Nova de Gaia e Espinho, onde vivem cerca de 318 000 pessoas. Em Maio, dos 214 457 desempregados inscritos na Delegação Regional Norte do IEFP, 26 263 são desempregados registados no Centro de Emprego de Vila Nova de Gaia. Destes, 1388 estavam à procura do primeiro emprego.
Na segunda-feira, quando o DN procurou falar com alguns utentes do centro, o dia revelou-se particularmente movimentado, com dezenas de pessoas a aguardar, pacientemente, a sua vez. Foram os casos de Fátima Rocha, Sandra Ribeiro e Elisabete Ventura, que, após uma manhã de espera, deram uma escapadinha até ao café mais próximo para enganar a fome, com o cuidado de não deixar passar a sua vez na chamada. Tal como a esmagadora maioria dos presentes, tinham acabado de ficar desempregradas e estavam ali para se inscrever. Inscritas numa empresa de trabalho temporário, tanto "somos chamadas para fazer um dia, uma semana ou um mês, como foi esta vez, que até tivemos sorte. Mas que é uma pouca-vergonha, é", diz Elisabete Ventura.
Patrícia Rocha reforça a ideia: "Em princípio, é sempre por pouco tempo, não conseguimos trabalho fixo." E quando questionadas porquê, Sandra Ribeiro replica: "Porque eles [os patrões] não têm trabalho sempre, por isso não vão pagar um mês completo." Elisabete Ventura lamenta é que "sejam sempre as mesmas a vir embora para casa, em vez de rodar entre todas". Férias, vão tirá-las forçadas. Vão para fora, perguntamos "Nem pensar!", diz Elisabete Ventura. "Vou para fora cá dentro - de casa -", ironiza Sandra Ribeiro.
D.N. - 09.07.09
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