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09/07/2009

Crise capitalista: O pior está para vir

Os efeitos económicos e sociais da crise do capitalismo ainda não se fizeram sentir em toda a sua brutalidade, admite a OMC. Simultaneamente, outras instituições do sistema pressionam contra o «proteccionismo», enquanto a ONU divulgou números preocupantes da miséria no mundo e os EUA não saem da crise.

«O pior da crise em termos sociais ainda está para vir, o que quer dizer que o pior da crise em termos políticos ainda está para vir», admitiu o director-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy.
A declaração de Lamy, em Genebra, na véspera do início da cimeira do G8, agendada para Itália e na qual participam as economias emergentes, tiveram como objectivo pressionar os países considerados em vias de desenvolvimento a assinarem o acordo de Doha, ou seja, mais que um alerta sobre o vórtice do sistema e as respectivas consequências para os povos de todo o mundo, o responsável da OMC somou-se aos que, à boleia da crise, pressionam os estados soberanos e os trabalhadores a aceitar condições ainda mais extremas de dependência e exploração, em nome da salvaguarda do crescimento económico e do emprego, respectivamente.
Não obstante, os dados da instituição são ilustrativos da gravidade da situação. O comércio mundial deverá cair pelo menos 10 por cento em 2009 para o nível mais baixo desde a II Grande Guerra Mundial. O comércio dos países em desenvolvimento cairá pelo menos 7 por cento, contra os 3 inicialmente previstos.
Às palavras de Lamy, acrescem as do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, que alertou segunda-feira para o «proteccionismo», medida que, disse ainda, significa «brincar com o fogo».
No mesmo dia, o responsável do Fundo Monetário Internacional advertiu que a chamada limpeza dos denominados «activos tóxicos» ainda não está concluída, pelo contrário, «ainda há muito a fazer», referiu preparando o caminho para novas investidas do capital financeiro aos fundos públicos suportados pelos que estão a pagar a crise: os trabalhadores.

Pobreza galopante

Entretanto, as Nações Unidas vieram lembrar que as Metas do Milénio – entre as quais a redução da pobreza para metade até 2015 – não só não vão ser atingidas como, nalguns índices, observa-se uma regressão.
Segundo dados oficiais, se entre 1990 e 2006, a proporção de famintos passou de 20 para 16 por cento da população mundial, de então para cá o número de subnutridos não pára de aumentar. Recorde-se que há três semanas a FAO confirmou que um em cada seis seres humanos não tem condições de acesso a alimentação.
No mesmo relatório, a ONU revela que se entre 1990 e 2005 foi possível reduzir em 400 milhões o número de pessoas a viver com menos 1,25 dólares, em 2009 haverá mais 55 a 90 milhões na pobreza extrema. A imprecisão deste intervalo traduz, só por si, as dificuldades em que se encontra o sistema e o poço de miséria gerado pelo capitalismo.

EUA em dificuldades

Em sérias dificuldades, já se sabe, está a economia norte-americana. Terça-feira, em Singapura, a conselheira económica de Barack Obama, Laura Tyson, aludiu à necessidade de um novo plano estatal para colocar a economia mundial na retoma. Tyssen lembrou que o défice orçamental dos EUA, o maior desde 1945, vai agravar-se ainda mais e que um eventual segundo plano teria menos efeitos sobre o emprego que o primeiro já em curso, isto porque, explicou, a destruição de postos de trabalho está a superar todas as estimativas.
O alerta de Tyssen é extremamente preocupante se considerarmos que a taxa de desemprego admitida, faz um mês, pelo presidente Barack Obama para todo o ano, 10 por cento, está quase a ser atingida. Em Junho, as estatísticas oficiais contabilizaram 467 mil empregos destruídos, mais 100 mil que o assumido no cenário mais pessimista, elevando para 9,5 por cento o desemprego registado pelo departamento do Trabalho.
A Casa Branca diz que cerca de 6,5 milhões de trabalhadores estão sem emprego nos EUA, dos quais 4,4 milhões se encontram desocupados há mais de dois anos. Mais de 9 milhões trabalham a tempo parcial. Mas estes números estão muito longe de traduzirem cabalmente a situação catastrófica que vivem os trabalhadores norte-americanos, que se lançam na luta em defesa dos seus postos de trabalho, de trabalho com direitos e contra a rapina do capital.
Avante - 09.07.09

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