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20/04/2009

Preços leoninos do gás e da electricidade

Eugénio Rosa - 19.04.09

O mercado do gás em Portugal é dominado pela GALP, cuja cota de mercado é de 90%, seguindo-se a EDP com uma quota de apenas 5%. Na electricidade, sucede o contrário: a empresa dominante é a EDP Ambas as empresas são dominadas por grandes grupos económicos portugueses e estrangeiros. A GALP pelo grupo italiano ENI, pelo grupo Amorim e pela Sonangol; a EDP pelos grupos espanhóis Iberdrola e Caja de Ahorros de Astúrias, pelos grupos portugueses BES, Mellos, e BCP, e por fundos estrangeiros. E o que se passa nestes dois mercados é um autêntico escândalo que nem o governo nem a entidade de supervisão (a ERSE) têm feito alguma coisa para alterar (deixamos para um próximo estudo o dos combustíveis que é semelhante).

A Direcção Geral da Energia do Ministério da Economia e Inovação acabou de divulgar os preços do gás e da electricidade pagos pelas famílias, em 2008, em Portugal e nos países da União Europeia. E essa informação contêm os preços desagregados, ou seja, com impostos, e também os preços sem impostos, ou seja, aqueles que revertem na sua totalidade para as empresas, que constituem a fonte dos seus lucros, e que são pagos também pela famílias. E vamos utilizar precisamente estes dados oficiais para mostrar mais uma vez a situação escandalosa que se verifica no mercado do gás e da electricidade em Portugal.

O PREÇO DO GÁS EM PORTUGAL À SAIDA DAS EMPRESAS, PORTANTO SEM IMPOSTOS, É SUPERIOR ENTRE 46,2 % E 53,5% AO PREÇO MÉDIO DA UNIÃO EUROPEIA

O quadro seguinte, com os dados divulgados pela Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia, mostra a situação em Portugal comparando-a com a de outros países da U.E.

QUADRO I – O preço do gás pago pelas famílias, de acordo com o seu consumo anual, em 2008 em Portugal e nos outros países das União Europeia

Preços Médios do Gás Natural em 2008, em Euros/GigaJoule, no Sector Doméstico

País

D1 - Consumo anual: Inferior a 20 GJ

D2 - Consumo anual: De 20 Gj até 200 Gj

D3 - Consumo anual: Superior ou igual a 200 Gj

Com Taxas

Sem IVA

Sem Taxas

Com Taxas

Sem IVA

Sem Taxas

Com Taxas

Sem IVA

Sem Taxas

Alemanha

27,398

23,021

20,355

18,638

15,669

13,931

17,117

14,388

12,656

Bélgica

23,880

19,740

19,400

16,260

13,480

13,010

15,230

12,590

12,230

Bulgária

8,994

7,496

7,496

9,848

8,201

8,201

9,981

8,319

8,319

Croatia

7,592

6,287

5,910

7,592

6,287

5,910

7,592

6,287

5,910

Eslováquia

25,829

21,705

21,705

11,888

9,990

9,990

11,118

9,343

9,343

Eslovénia

18,910

15,760

14,970

15,510

12,920

12,140

14,480

12,060

11,280

Espanha

19,651

16,940

16,940

15,981

13,777

13,777

13,310

11,474

11,474

Estónia

10,894

9,232

8,944

9,300

7,881

7,390

9,273

7,859

7,427

França

25,160

22,100

22,100

14,460

12,290

12,290

13,210

11,120

11,120

Holanda

27,002

22,691

18,272

19,369

16,276

12,009

18,552

15,590

11,430

Hungria

11,433

9,528

9,528

11,237

9,364

9,364

11,093

9,244

9,244

Irlanda

19,020

16,760

16,760

15,090

13,290

13,290

14,400

12,680

12,680

Itália

18,545

16,848

13,948

17,468

14,552

12,031

17,652

14,710

10,665

Letónia

9,220

8,776

8,762

8,704

8,289

8,275

8,661

8,246

8,246

Lituânia

14,158

11,998

11,998

9,147

7,752

7,752

8,911

7,552

7,552

Polónia

15,380

12,608

12,608

11,563

9,477

9,477

10,872

8,913

8,913

PORTUGAL

22,520

21,447

21,447

17,366

16,539

16,539

15,599

14,856

14,856

Reino Unido

12,315

11,729

11,170

10,987

10,464

9,966

10,809

10,294

9,804

Rep. Checa

18,252

15,338

15,338

12,202

10,254

10,254

12,213

10,263

10,263

Roménia

9,245

7,769

5,945

9,212

7,742

5,950

9,113

7,658

5,954

Suécia

30,782

24,628

18,175

26,526

21,225

14,772

25,641

20,511

14,068

MÉDIA

17,913

15,352

14,370

13,731

11,701

10,777

13,087

11,141

10,164

Portugal/MÉDIA

25,7%

39,7%

49,2%

26,5%

41,3%

53,5%

19,2%

33,3%

46,2%

FONTE: Direcção Geral de Energia e Geologia do Ministério da Economia e Inovação

O preço do gás em Portugal pago pelas famílias, em 2008, portanto incluindo impostos, é superior ao preço médio dos 20 países da União Europeia constantes do quadro anterior, nas seguintes percentagens: (a) Famílias que consomem por ano até 20 Gigajoule: +25,7%; (b) Famílias que consomem por ano entre 20 até 200 Gigajoule: + 26,5%; (c) Famílias que consomem por ano mais de 200 Gigajou : +19,2%. São diferenças de preços muito elevadas que tanto a ERSE como o governo nunca explicaram nem nunca procuraram por cobro.

Mas o escândalo é ainda maior quando se comparam os preços do gás em Portugal e nos países das União Europeia sem impostos, ou seja, à saída das empresas, que são os preços que revertem na sua totalidade para as empresas, e que são pagos também pelas famílias. E os dados da Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia acabados de publicar revelam uma situação que continua a ser um verdadeiro escândalo. Os preços pagos pelas famílias portuguesas são muito superiores aos preços médios dos 20 países das União Europeia que constam do quadro. E a diferença sempre para mais, varia de +49,2% para as famílias que consomem anualmente até 20 Gigajoule; de +53,5% para as famílias que consomem anualmente de 20 a 200 Gigajoule, e de +46,2% para as famílias que consomem anualmente 200 ou mais Gigajoules.

É evidente que uma descida média de 4,1% no preço do gás às famílias, anunciada pela entidade de supervisão (ERSE) não reduz o escândalo que são os preços leoninos, quando os comparamos com os praticados em outros países da União Europeia, que as famílias portuguesas estão a ser obrigadas a pagar por imposição dos grandes grupos económicos, que dominam a GALP.

Este comportamento da ERSE e do governo ( o presidente da entidade de supervisão foi nomeado pelo governo) ainda se tornam mais escandalosos se tiver presente a variação do preço do gás natural no mercado internacional, onde o gás vendido em Portugal é adquirido. Segundo o Expresso de 18.4.2009, o preço do gás natural no mercado internacional era, em 1.1.2008, de 22,96 euros por megawatt-hora de gás e, em 15.4.2009, de 11,24 euros por megawwatt-hora. Portanto, entre Janeiro de 2008 e Abril de 2009, o preço do gás natural baixou 51%. E o presidente da ERSE vem “anunciar com pompa e circunstância”, e só a partir de Junho de 2009, um redução média no preço do gás pago pelas famílias portugueses de apenas 4,1%.

OS PREÇOS DA ELECTRICIDADE EM PORTUGAL À SAIDA DAS EMPRESAS É ENTRE 32,8% E 84,8% SUPERIORES AOS PREÇOS MÉDIOS DA UNIÃO EUROPEIA

Uma situação muito semelhante se verifica no mercado nacional da electricidade, também da responsabilidade da ERSE. Os preços da electricidade que as famílias portuguesas continuam a ser obrigadas a pagar são muito superiores aos preços médios dos países da U.E. como provam os dados da mesma Direcção Geral de Energia constantes do quadro seguinte.

QUADRO II – Preço da electricidade para as famílias, de acordo com o seu consumo anual, em Portugal e em outros países da União Europeia – em 2008

Preços Médios de Energia Eléctrica, em €/kWh, no Sector Doméstico - 2008

PAÍS

DA - Consumo anual até 1000 kWh

DB - Consumo anual de 1000 até 2500 kWh

DC - Consumo anual de 2500 até 5000 kWh

DD - Consumo anual de 5000 até 15000 kWh

DE- Consumo anual até 15000 kWh

Com Taxas

Sem Taxas

Com Taxas

Sem Taxas

Com Taxas

Sem Taxas

Com Taxas

Sem Taxas

Com Taxas

Sem Taxas

Alemanha

0,342

0,235

0,239

0,150

0,215

0,130

0,199

0,118

0,191

0,113

Bulgária

0,074

0,062

0,073

0,061

0,071

0,059

0,071

0,059

0,071

0,059

Chipre

0,192

0,165

0,176

0,151

0,178

0,153

0,179

0,153

0,179

0,154

Croatia

0,197

0,160

0,110

0,088

0,099

0,080

0,092

0,074

0,088

0,072

Dinamarca

0,292

0,143

0,292

0,143

0,264

0,120

0,234

0,104

0,234

0,104

Eslováquia

0,236

0,198

0,167

0,141

0,142

0,119

0,119

0,100

0,094

0,079

Eslovénia

0,186

0,146

0,130

0,103

0,115

0,091

0,107

0,085

0,101

0,080

Estónia

0,084

0,066

0,083

0,065

0,081

0,064

0,078

0,061

0,067

0,052

Finlândia

0,215

0,167

0,147

0,112

0,122

0,092

0,106

0,078

0,089

0,064

Holanda

0,236

0,139

0,153

0,173

0,127

0,197

0,120

0,185

0,113

Irlanda

0,445

0,392

0,209

0,184

0,177

0,156

0,157

0,139

0,137

0,121

Letónia

0,085

0,081

0,085

0,081

0,084

0,080

0,082

0,078

0,079

0,075

Lituânia

0,092

0,078

0,089

0,076

0,086

0,073

0,081

0,069

0,075

0,064

Polónia

0,176

0,137

0,133

0,102

0,126

0,097

0,111

0,085

0,111

0,085

Portugal

0,334

0,318

0,169

0,161

0,148

0,141

0,133

0,126

0,124

0,118

Rep.Checa

0,266

0,222

0,200

0,167

0,127

0,106

0,105

0,087

0,091

0,075

Roménia

0,107

0,090

0,108

0,090

0,106

0,089

0,104

0,087

0,105

0,088

Suécia

0,287

0,202

0,187

0,123

0,170

0,109

0,149

0,091

0,135

0,081

Média

0,212

0,172

0,152

0,119

0,138

0,105

0,128

0,095

0,120

0,089

PT/Média

57,3%

84,8%

11,3%

35,0%

7,2%

34,7%

3,7%

32,8%

3,5%

33,3%

FONTE: Direcção Geral de Energia e Geologia do Ministério da Economia e Inovação

Os preços da electricidade em Portugal pagos pelas famílias, em 2008, portanto incluindo impostos, eram superiores aos preços médios da União Europeia constantes do quadro anterior, nas seguintes percentagens: (a) Famílias que consomem por ano até 1000 kWh: +57,3%; (b) Famílias que consomem por ano entre 1000 kWh e 2500 kWh:+ 11,3%; (c) Famílias que consomem por ano entre 2500 kWh e 5000 kWh: +7,2%; (d) Famílias que consomem por ano entre 5.000 e 15.000 kWh: +3,7%; (e) Famílias que consomem por ano mais de 15.000 kWh: +3,5%. Aqui é tanto menor a diferença quanto maior é o consumo.

Mas o escândalo é ainda maior quando se comparam os preços em Portugal e nos países das União Europeia sem impostos, ou seja, à saída das empresas, que são os preços que revertem na sua totalidade para as empresas, e que são pagos também pelas famílias. E os dados da Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia revelam um autêntico escândalo. Os preços pagos pelas famílias portuguesas são sempre superiores aos preços médios da União Europeia que constam do quadro. E a diferença para mais variava da seguinte forma: (a) Famílias que consomem por ano até 1000 kWh: +84,8% (b) Famílias que consomem por ano entre 1000 kWh e 2500 kWh:+ 35%; (c) Famílias que consomem por ano entre 2500 kWh e 5000 kWh: +34,7%; (d) Famílias que consomem por ano entre 5.000 e 15.000 kWh: +32,8%; (e) Famílias que consomem por ano mais de 15.000 kWh: +33,3%.

Esta diferença tão grande entre os preços da electricidade em Portugal e nos outros países da União Europeia, assim como a diferença registada nos preços do gás natural analisada anteriormente, que nunca foram explicadas nem pelo governo nem pela ERSE, mostram bem os interesses que defendem as chamadas entidades de supervisão, as quais têm uma atitude que se têm caracterizado, no essencial, por uma completa submissão aos interesses dos grandes grupos económicos ou então por uma incapacidade notória para controlar seja o que for (Vítor Constância, aquando do debate na Assembleia da República do caso BPN, em que participamos, afirmou que, de acordo com estudos feitos, as entidades de supervisão bancária, em Portugal e em outros países do mundo, só conseguiam detectar menos de 20% das ilegalidades praticadas pelos gestores bancários). No entanto, apesar da experiência provar isso, perante a crise financeira actual determinada também por actos de gestão irresponsáveis, danosos e mesmo criminosos, que caracterizam também o sistema capitalista na sua ânsia de alcançar lucros sempre mais elevados, essas mesmas entidades de supervisão são agora apresentadas pelos governos, e pelos seus defensores, como a solução para evitar no futuro crises financeiras e económicas como a actual. Mas como dizia o protagonista do filme Leopardo “é preciso mudar alguma coisa para tudo continuar na mesma”, e assim enganar a opinião pública.

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