Não há registo de pior trimestre na corrida aos centros de emprego. De Janeiro a Março inscreveram-se mais de 196 mil pessoas, ou 2185 por dia, um valor sem precedentes. O ritmo de subida é o maior desde a crise de 1993.
O primeiro trimestre do ano foi o mais crítico de sempre na corrida aos centros de emprego. De Janeiro a Março inscreveram-se mais de 196 mil pessoas como desempregadas, o valor trimestral mais alto desde, pelo menos, 1979.
Em termos homólogos, as subidas registadas no mês de Março (58%) e no conjunto do trimestre (38%) foram as mais elevadas desde a recessão de 1993, mostram dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) divulgados pelo Banco de Portugal.
Não admira, por isso, que o número de desempregados que permanecem sem emprego no final do mês - o valor acumulado - continue a subir de forma tão expressiva. De acordo com a informação administrativa divulgada pelo IEFP, Portugal tinha, em Março, 484 mil desempregados: mais 24% do que há um ano e mais 16% do que no final de 2008.
Foi um acréscimo de 68 mil pessoas desde o final do ano passado, também inédito num período tão curto. O grande salto deu-se, contudo, no primeiro mês do ano, tendo desde então vindo a abrandar: foram mais 32 mil pessoas em Janeiro, 21 mil em Fevereiro e menos de 15 mil em Março. Um abrandamento que pode justificar as palavras do ministro do Trabalho, Vieira da Silva, quando ontem disse que os números "estão em linha" ou são até "ligeiramente inferiores" ao que tem sido "o comportamento do desemprego inscrito nos centros de emprego ao longo deste ano". Uma situação que atribui à "recessão mundial".
Contudo, o abrandamento não foi linear no registo de novos desempregados - o fluxo - que é tido como um indicador do que poderá acontecer no futuro. Apesar de o número ter recuado em Fevereiro (de 70 mil para 60 500), voltou a aumentar em Março, para 65 743 novos inscritos como desempregados, elevando o número do primeiro trimestre para as mais de 196 mil pessoas já referidas.
Não é fácil perceber se os movimentos sazonais do mercado de trabalho - que no Verão cria, em regra, mais emprego, sobretudo precário - vão conseguir amortecer os efeitos de uma recessão tão acentuada. Vieira da Silva contestou ontem as previsões do FMI, que projecta a subida da taxa de desemprego para o valor recorde de 11% no próximo ano com a destruição de 160 mil postos de trabalho. "Não é inevitável que esta recessão económica tenha uma tradução tão dura do ponto de vista do desemprego", declarou aos jornalistas.
Os trabalhadores com contratos mais precários são os que estão mais vulneráveis a uma subida tão acentuada do desemprego.
Os dados mostram que o fim de trabalho não permanente - como a não renovação de contratos a prazo - continua a ser o principal motivo de desemprego, responsável por 39% das inscrições em Março.
Os despedimentos têm, contudo, conquistado peso nos últimos meses. No primeiro trimestre motivaram 38 804 inscrições, mais 63% que em período homólogo.
D.N. - 24.04.09
Sem comentários:
Enviar um comentário