À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

13/10/2011

Mais nem menos já é demais

Anabela Fino 

O Governo PSD/CDS e o banco BIC acordaram, em 31 de Julho, a negociata do BPN. O termo «negociata» é intencional, já que o contrato-promessa da transação fixou a quantia de 40 milhões de euros para a mudança de donos, mais o bónus de 850 postos de trabalho a abater ao efectivo de 1600, e ainda a recapitalização do banco de acordo com os parâmetros que o Banco de Portugal e a troika exigem em termos de rácio de solvabilidade.
Com um negócio destes, falar em «venda» do BPN é não apenas um manifesto exagero mas um rotundo dislate, mais a mais tendo em conta que o Estado pagou – ou seja, os contribuintes – para cima de 2400 milhões de euros na mal dita nacionalização do BPN.
Em boa verdade, nacionalizados foram os prejuízos quando o então governo do PS decidiu – em Novembro de 2008 – deixar de fora da intervenção estatal o vasto e rico património do grupo SLN/BPN, designadamente de natureza imobiliária, justamente onde poderia ir buscar meios para colmatar os prejuízos causados pelas actividades criminosas e fraudulentas do bando de mafiosos do banco, e minorar o prejuízo do Estado com a intervenção.
Pois bem, a saga do BPN ainda não chegou ao fim, e a avaliar por recentes declarações de Mira Amaral – presidente do BIC e recém repescado para comentador político televisivo –, os custos para o povo português com este cambalacho também não. Ao que parece, o banco BIC – que para além de capitais angolanos conta entre os accionistas com Américo Amorim, esse «trabalhador» que é simultaneamente o homem mais rico do País – o banco, dizíamos, estará a exigir para fechar o negócio uma injecção de capital de 850 milhões de euros em vez dos anteriores 550 milhões previstos para a recapitalização. Discreto, Mira Amaral não fala em números, mas vai dizendo que não quer «nem mais nem menos» do que o que «está no acordo», cabendo ao Governo «fazer as contas» por forma a «respeitar os rácios de solvabilidade» acordados a 31 de Julho. Sabendo que «nem mais nem menos» pode significar mais 300 milhões a juntar aos milhares de milhões já sacados aos bolsos dos portugueses, ficamos à espera que o comentador Amaral explique onde é que entra nesta história o interesse do País.

http://www.avante.pt/pt/1976/opiniao/116649/

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