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04/06/2011

Emigrar é mesmo a solução para arquitectos, dizem alunos e professores

Emigrar parece mesmo ser a solução para a arquitectura em Portugal. Disse-o Souto Moura quando recebeu o Prémio Pritzker 2011 e afirmaram-no finalistas e professores daquele curso da Universidade Técnica de Lisboa.
"Só há duas soluções: ou emigrar ou aguardar que esta crise aguce a imaginação e obrigue a repensar o conceito de construção desenfreada, em voga nos anos 1980, mas nesse caso temos que ficar um pouco à espera para ver o que vai acontecer", disse à Lusa Ivo Covaneiro, estudante do 3.º ano de arquitectura daquela universidade, que já trabalhou no estrangeiro como designer de interiores, mas que decidiu regressar ao país para concluir o curso.
"Portugal forma muito bons arquitectos mas depois se querem trabalho decente tem que ir para o estrangeiro, porque o país não tem mercado suficiente para a quantidade de profissionais que forma", acrescentou.
Porque acredita que esta crise vai "se valorizar o que se tem" e servirá de "motivação" para redefinir conceitos urbanísticos, revitalizar e requalificar o centro das cidades e os edifícios devolutos.
A mesma esperança tem Francisco Alves, estudante do 5.º e último ano do curso e já a colaborar com um atelier. Apesar de só ter lido o "cabeçalho" da notícia sobre o Pritzker, afirmou concordar "plenamente" com as declarações do premiado por "o panorama da construção se encontrar um pouco estagnado".
Ciente de que aos arquitectos portugueses não resta senão "emigrar ou aproveitar o lado positivo da crise", acredita igualmente ser esta uma altura ideal para acabar com o paradigma de construção que caracterizou os anos 1980.
E alega que a crise deve servir para repensar a arquitectura de uma perspectiva "mais sustentável", sobretudo ao nível da revitalização e requalificação do centro das cidades e do património.
E apesar de preferir continuar a trabalhar em Portugal, não exclui a possibilidade de ir para o Brasil caso o atelier com que colabora levar por diante a intenção de se mudar para o país onde decorrerá o Mundial de Futebol 2014, os Jogos Olímpicos 2016 e "para onde se perspectiva uma exposição universal", afirmou.
Luísa Sol, doutoranda em arquitectura, também concorda que o futuro dos arquitectos portugueses passa pela emigração.
Depois de entre 2005 e 2007 ter trabalhado no Brasil e de em 2009 ter trabalhado num gabinete conceituado, trabalhar 16 horas por dia e receber 1000 euros brutos, decidiu voltar à FA/UTL para fazer o doutoramento.
"Neste momento não pretendo emigrar porque estou a fazer um investimento, mas não o ponho de parte", observou, nomeando Brasil, Inglaterra e Índia como alguns países onde gostava de trabalhar.
Também os catedráticos Maria Dulce Loução e Pedro Janeiro, o mais jovem catedrático da FA/UTL, não hesitam em admitir que o futuro dos arquitectos portugueses é a emigração. Uma opinião corroborada pelo presidente do conselho científico daquela faculdade, o arquitecto Rui Barreiros Duarte, para quem o futuro passa também por uma "mudança de mentalidade, de estratégias de gestão e definição de prioridades".
"Mas não será nos tempos mais próximos que tal acontecerá, concluiu.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1869763&page=-1

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