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01/06/2011

Multinacionais usam países pobres para obterem biocombustíveis

Desde Moçambique até ao Senegal há pelo menos 3,2 milhões de hectares, e muitos projectos em vista, com plantações para biocombustível pertencentes a empresas dos países ricos. A corrida a terrenos agrícolas em África está a provocar um aumento dos preços dos alimentos e da fome nos continentes mais pobres e a ter um efeito contrário ao desejado, aumentando as emissões de carbono para a atmosfera.
Uma investigação do The Guardian revela que metade dos 3,2 milhões de hectares já plantados são propriedade de empresas britânicas. O objectivo das multinacionais é exportar para a União Europeia (UE), que adoptou directivas para o aumento progressivo da percentagem de biocombustível em cada litro de gasolina e gasóleo. Mas as regras têm sido criticadas por peritos e em Abril foram veementemente condenadas por uma comissão do Conselho Nuffield de Bioética.
De acordo com o jornal britânico, pelo menos no Reino Unido apenas 31% do biocombustível importado respeita voluntariamente as normas ambientais de protecção das fontes de água, da qualidade do solo e das emissões de carbono do país onde é produzido. Em África há mais de 100 projectos de 50 empresas e até a própria indústria desmente a ideia de que as plantações para biocombustível podem ocupar terrenos marginais e secos que não são usados pela agricultura para alimentação.
Cultivar jatrofa de uma forma lucrativa em terras secas é um mito. Precisa de água, fertilizantes e pesticidas para garantir retorno elevado", admite Peter Auge, gestor dos projectos que a Sun Biofuels possui na Tanzânia, de cerca de oito mil hectares onde são cultivados jatrofa, uma cujas sementes são usadas para biocombustível.
O retorno exigido pelos governos africanos para autorizarem estas plantações também é alvo de críticas. "Não há planos para construir refinarias, nem obrigações por parte dos investidores estrangeiros de reservarem uma parte da sua produção para o mercado doméstico", aponta Jamidu Katima, professor da Universidade de Dar es Salaam, na Tanzânia.
James Smith, professor de Estudos Africanos e Desenvolvimento, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, aponta ao The Guardian mais um problema: "O investimento provado está a ir muito à frente dos nossos conhecimentos sobre os impactos dos biocombustíveis, tais como a desapropriação de terras." Os agricultores locais perdem as terras aráveis e sobrevivem destruindo vastas áreas florestais.
O Instituto Europeu de Política Ambiental avisou recentemente que a libertação de carbono para a atmosfera causada pela desflorestação poderá ultrapassar os ganhos obtidos com o uso de biocombustíveis em 35% já este ano e 60% em 2018. Mas a UE, que se orgulha de ser o líder mundial no combate às alterações climáticas, não contabiliza estes efeitos indirectos quando estabelece os guias de sustentabilidade ambiental.

http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1867035&seccao=%C1frica&page=-1

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