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10/02/2011

Há quem desmarque consultas especializadas por falta de dinheiro para transporte

Associações de doentes alertam que há doentes crónicos a desmarcar consultas especializadas por não terem condições económicas para pagar o transporte e outros que deixam de tomar os medicamentos porque o dinheiro não chega para tudo.
O alerta surge na véspera do Dia Mundial do Doente, instituído pelo papa João Paulo II, “perante a necessidade de assegurar a melhor assistência possível aos doentes”.
O diretor clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDC) adiantou à agência Lusa que há doentes que estão “a desmarcar as suas consultas porque não têm capacidade financeira para se deslocarem aos centros”.
“Estes doentes precisam de ser vigiados por equipas de saúde especializadas e com a ausência do pagamento de transporte para se deslocarem muitos desmarcam as consultas”, adiantou João Filipe Raposo.
E exemplificou: “Se pessoa tem uma retinopatia diabética e tem de se deslocar cinco vezes, isso pode representar para quem vive a uma certa distância do centro de tratamento uma despesa incomportável”.
João Raposo defende que tem de haver “alguma racionalização” no transporte, mas considera que têm de ser “analisadas a disponibilidade económica das pessoas e as alternativas de transporte existentes na zona”.
Esta preocupação é partilhada pela Associação Portuguesa de Paramiloidoise (APP). “Esta situação tem provocado problemas aos nossos doentes”, assegura o presidente, Carlos Figueiras.
Outra situação que preocupa estas associações é o impacto que a crise pode ter nestes doentes. “Uma alteração significativa num momento social pode ser vista por um doente crónico de uma maneira que levanta mais problemas”, adiantou o presidente da APDC.
Estes doentes têm medicação gratuita, mas o que preocupa os responsáveis é que deixem de tomar os medicamentos para as doenças associadas e deixem de ter uma alimentação correta, como a doença exige. “Isto vai levar, mais tarde, a consequências que podem ser importantes para a saúde da pessoa e da população em geral”, adiantou Filipe Raposo.
“Hoje em dia há fome em Portugal”, acentuou Carlos Figueira, adiantando que a APP distribuiu, na última década, 210 toneladas de alimentos aos seus doentes.
Para esta associação, a grande preocupação é que as pessoas que sofrem da doença dos pezinhos (paramiloidoise) possam ter acesso a um medicamento que está a ser utilizado desde janeiro de 2010 pelos franceses e que os italianos vão começar a tomar em abril.
“Em Portugal ainda não se vislumbra a vinda desse fármaco e estamos muito apreensivos, porque é o único medicamento que existe a nível mundial para tratamento desta patologia”, disse Carlos Figueiras.
Para os doentes, esta situação representa “um autêntico terramoto psicológico” porque sabem que há pessoas que estão a curar-se com estes medicamento.
Já o presidente do Movimento de Utentes dos Serviços de Saúde alertou para a necessidade de uma “atenção especial” das autoridades para com os doentes, sobretudo os crónicos, que “mereciam um tratamento mais adequado a essa situação”.
“As novas alterações à política do medicamento não favoreceram os doentes”, criticou o responsável, salientando: “Muitos utentes, na grande maioria idosos, deixam na farmácia parte dos medicamentos por falta de dinheiro”, disse Manuel Villas Boas.
“É absolutamente antissocial”, sustentou, alertando: “Este ano vai ser muito mais difícil, vamos ter problemas gravíssimos.”

http://noticias.sapo.pt/info/artigo/1128716.html

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