À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

30/09/2010

A demagogia continua e os trabalhadores e as populações ficam mais pobres

A Dona Economia volta a estar na berra. Chamam-lhe «Macro», mas é só apelido. E se a gente já tivesse esquecido, lembram-nos – os governantes e as suas sombras do PSD, as muletas do BE fingem que só ajudam à «alegria» – que a economia está doente e não há outra maneira senão cortar na despesa. Em bicos dos pés, bem pode frei Sócrates clamar que o chamado «Estado social» não vai ser beliscado no processo. Mesmo que não o fosse, já o tinha sido e continua a ser não apenas beliscado mas esmagado. O Estado social, de que se compõe? De saúde, por exemplo. E na matéria há que lembrar os encerramentos de centros de saúde e de maternidades, as «baixas de preços» nos medicamentos, que fazem pagar aos mais pobres de entre os pobres mais uma taxa. Por exemplo, também, compõe-se de educação. E aqui, para além do ataque desbragado aos direitos dos professores e dos funcionários, o encerramento das escolas e as medidas tomadas para fazer «concluir» etapas e deixar prontos alunos e estudantes com falhas de conhecimento mas que se podem mostrar para os números, dizem bem do que tem sido o desprezo do Estado social. Quanto à segurança social, querem mais insegurança que esta, com pensões de miséria e impostos que levam aos reformados, por via do IVA em produtos essenciais, o pouco dinheiro de que dispõem? E os subsídios de miséria, agora cortados para muitos milhares de famílias? Portanto a demagogia continua e os trabalhadores e as populações ficam mais pobres. Nem o espaço dava para enumerar os efeitos da exigência desta Dona Economia...

Entendimentos

Toda a gente se queixa de que a vida está má e que a Economia não ajuda nada. Mas há os muitos com razão de queixa e os poucos com queixas sem razão. Infelizmente são estes a quem é dada a palavra, seja pelas responsabilidades que detêm na governação (ou na sua sombra) seja pelas largas bolsas que enchem. É preciso, dizem estes todos, chegar a acordos sobre o que fazer, nomeadamente no que respeita ao próximo Orçamento. Nenhum deles, que se saiba, se refere aos orçamentos das famílias trabalhadoras, no activo, no desemprego e na reforma. E sobre as próprias famílias nada dizem também, receosos de que lhes façam as contas aos automóveis topo de gama, às casas com largas piscinas, às terras que «dão cortiça» e subsídios, aos iates e às festarolas, às jogatanas na bolsa, aos juros que cobram nos empréstimos agiotas. E esses todos entendem-se nas receitas, embora mostrem as faces arreganhadas para o espectáculo, nas guerras de alecrim e manjerona em que pretendem alargar a sua particular clientela eleitoral. Os sinais de entendimento é preciso lê-los nas meias palavras. Nas de Cavaco, por exemplo. E nas de Mário Soares, seu companheiro de percurso para a direita, quando há dias disse que tem ouvido ao Presidente «palavras sensatas».

Ajudas

Para os entendimentos há ajudas preciosas, bem embrulhadas com ameaças. Aqui-del-rei que vem aí o FMI impor-nos receitas. Como se Mário Soares e Cavaco alguma vez houvessem temido o FMI e a sua «desinteressada ajuda». Mas também chega, com carpete vermelha, trombetas e clamores de comunicação social, a ajuda da OCDE, cujo presidente mexicano – que se queixou de que o seu país é como um queijo cheio de buracos – deixou claro: a questão é, na opinião dele (e da OCDE), cortar nos salários, nos subsídios de Natal e... subir impostos.
Sócrates e o seu mago Teixeira devem ter-se babado todos ao ouvir estes conselhos. E Passos Coelho, por mais que seja «contra» os aumentos de impostos (deve estar a pensar nos seus e nos de quem serve), vai meter a viola no saco. A bem da Nação.

http://www.avante.pt/pt/1922/argumentos/110623/

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